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Encíclica Fratelli Tutti – sétima parte

Publicado em 7 de dezembro de 2022 - 17:18:40

O Papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti, afirma: “Não me encontro com o outro se não possuo um substrato no qual estou firme e enraizado, pois é a partir dele que posso acolher o dom do outro e oferecer-lhe algo de autêntico. Só posso acolher quem é diferente e perceber a sua contribuição original, se estiver firmemente ancorado a meu povo com a sua cultura. Cada um ama e cuida, com particular responsabilidade, da sua terra e preocupa-se com o seu país, assim como deve amar e cuidar da própria casa para que não caia, ciente de que não o farão os vizinhos” (nº 143).

Nesta encíclica o Papa admoesta que há “narcisismos bairristas que não expressam um amor sadio pelo próprio povo e pela sua cultura. Escondem um espírito fechado que, devido a certa insegurança e medo do outro, prefere criar muralhas defensivas para sua salvaguarda. Mas não é possível ser saudavelmente local sem uma sincera e cordial abertura ao universal, sem se deixar enriquecer por outras culturas, nem se solidarizar com os dramas dos outros povos” (nº 146). Nenhum povo, nenhuma cultura e nenhum indivíduo podem obter tudo sozinhos, pois vivemos na interdependência uns dos outros.

Fratelli Tutti ensina que para “estimular uma sadia relação entre o amor à pátria e uma cordial inserção na humanidade inteira, convém lembrar que a sociedade mundial não é o resultado da soma dos vários países, mas, sim, a própria comunhão que existe entre eles, a mútua inclusão que precede o aparecimento de todo o grupo particular. É nesse entrelaçamento da comunhão universal que se integra cada grupo humano e aí encontra a sua beleza. Assim, cada pessoa nascida em determinado contexto sabe que pertence a uma família maior, sem a qual não é possível ter uma compreensão plena de si mesma” (nº 149).

O Papa reconhece que graças “ao intercâmbio regional, a partir do qual os países mais frágeis se abrem ao mundo inteiro, é possível fazer com que as particularidades não se diluam na universalidade. Uma adequada e autêntica abertura ao mundo pressupões a capacidade de se abrir ao vizinho, em uma família de nações. A integração cultural, econômica e política com os povos vizinhos deve ser acompanhada por um processo educativo que promova o valor do amor ao próximo, primeiro exercício indispensável para se conseguir uma sadia integração universal” (nº 151).

A encíclica proclama que atualmente “nenhum Estado nacional isolado é capaz de garantir o bem comum da própria população” (nº 153). E continua dizendo que para “se tornar possível o desenvolvimento de uma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a política melhor, a política colocada a serviço do verdadeiro bem comum” (nº 154). Acrescenta ainda que pertencer “a um povo é fazer parte de uma identidade comum, formada por vínculos sociais e culturais. E isso não é algo automático...” (nº 158).

Papa Francisco escreve que existem “líderes populares, capazes de interpretar o sentir de um povo, sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma sociedade. O serviço que prestam [...] pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento, que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum. Mas degenera em um populismo insano, sob qualquer sinal ideológico, a serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoísticas de alguns setores da população” (nº 159).

Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro

REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.

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