O Papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti, diz que o “ideal seria, sem dúvida, evitar migrações desnecessárias e, para isso, o caminho é criar reais possibilidades de viver e crescer com dignidade nos países de origem, para que possam encontrar lá as condições para o próprio desenvolvimento integral. Mas, enquanto não houver sérios progressos nessa linha, é nosso dever respeitar o direito que tem todo ser humano de encontrar um lugar em que possa não apenas satisfazer as necessidades básicas dele e da sua família, mas também de realizar-se plenamente como pessoa” (nº 129).
O Papa argentino afirma que a “chegada de pessoas diferentes, que provêm de um contexto vital e cultural distinto, transforma-se em um dom, porque ele diz, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre os Jovens Christus Vivit que ‘as histórias dos migrantes são histórias também de encontro entre pessoas e entre cultural: para as Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre os Jovens comunidades e as sociedades onde chegam são uma oportunidade de enriquecimento e desenvolvimento humano integral de todos’ (ChV. n. 93). O Papa pede aos jovens para não cair nas redes dos que querem jogar uns jovens contra outro" (nº 133).
O Papa Francisco escreve: “Em uma perspectiva mais ampla, eu e o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb lembramos que ‘o relacionamento entre Ocidente e Oriente é uma necessidade mútua indiscutível, que não pode ser comutada nem transcurada, para que ambos se possam enriquecer mutuamente com a civilização do outro por meio da troca e do diálogo das culturas. O Ocidente poderia encontrar na civilização do Oriente remédios para algumas das suas doenças espirituais e religiosas causadas pelo domínio do materialismo” (nº 136). O Oriente, por sua vez, poderia encontrar tais remédios no Ocidente” (nº 136).
Fratelli Tutti defende a ajuda mútua, pois na “realidade, a ajuda mútua entre países acaba por beneficiar a todos. Um país que progride com base no seu substrato cultural original é um tesouro para toda a humanidade. Precisamos fazer crescer a consciência de que hoje, ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém. A pobreza, a degradação, sofrimentos de um lugar da terra são um silencioso terreno fértil de problemas que, finalmente, afetarão todo o planeta” (nº 137). A humanidade deveria afligir-se quando pes soas e povos não se desenvolvem devido à pobreza.
A encíclica apela para a gratuidade fraterna: “Quem não vive a gratuidade fraterna transforma a sua existência em um comércio cheio de ansiedade: está sempre medindo aquilo que dá e o que recebe em troca. Em contrapartida, Deus dá de graça, chegando a ponto de ajudar mesmo os que não são fiéis e ‘faz nascer o seu sol sobre maus e bons’ (Mt 5,45). Por isso, Jesus recomenda: ‘’Quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique em segredo’ (Mt 6,3-4). Recebemos a vida de graça; não pagamos por ela” (nº 140).
Fratelli Tutti, citando a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, lembra que “entre a globalização e a localização também se gera uma tensão. É preciso prestar atenção à dimensão global para não cair em uma mesquinha cotidianidade. Ao mesmo tempo, convém não perder de vista o que é local, que nos faz caminhar com os pés por terra” (EG, n. 234) (nº 142). Precisa-se ter o equilíbrio entre o global e o local, evitando os extremismos, caindo em um “universalismo abstrato e globalizante” ou em um “museu folclórico de eremitas localistas”.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.