O Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti diz que a “recente pandemia permitiu-nos recuperar e valorizar tantos companheiros e companheiras de viagem que. no medo, reagiram dando a própria vida. Fomos capazes de reconhecer como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns que, sem dúvida, escreveram os acontecimentos decisivos da nossa história compartilhada: médicos, enfermeiros e enfermeiras, farmacêuticos, empregados dos supermercados, pessoal de limpeza, cuidadores, transportadores, homens e mulheres que trabalham para fornecer serviços essenciais e de segurança, voluntários...” (nº 54).
O Papa cita que nas “tradições judaicas, o dever de amar o outro e cuidar dele parecia limitar-se às relações entre os membros de uma mesma nação. O antigo preceito ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’ (Lv 19,18) geralmente entendia-se como referido aos compatriotas. Todavia, especialmente no judaísmo que se desenvolveu fora da terra de Israel, as fronteiras foram-se ampliando. Aparece o convite a não fazer aos outros o que não querer que te façam (Tb 4,15). A esse propósito dizia, no século I (a.C.), o sábio Hillel: isto é a Lei e os Profetas. Todo o resto é comentário’” (nº 59).
Papa Francisco comenta a Parábola do Bom Samaritano: “Nas pessoas que passam à distância, há um detalhe que não podemos ignorar: eram pessoas religiosas. Mais ainda, dedicavam-se a prestar culto a Deus: um sacerdote e um levita. Isso ... indica que o fato de crer em Deus e adorá-lo não é garantia de viver como agrada a Deus. Uma pessoa de fé pode não ser fiel a tudo o que essa mesma fé exige dela e, no entanto, sentir-se perto de Deus e julgar-se com mais dignidade do que os outros. Mas há maneiras de viver a fé que facilitam a abertura do coração aos irmãos, e essa será a garantia de uma autêntica abertura a Deus” (nº 74).
O Papa testemunha que às vezes “deixa-me triste o fato de, apesar de estar dotada de tais motivações, a Igreja ter demorado tanto tempo a condenar energicamente a escravatura e várias formas de violência. Hoje, com o desenvolvimento da espiritualidade e da teologia, não temos desculpas. Todavia, ainda há aqueles que parecem sentir-se encorajados ou pelo menos autorizados por sua fé a defender várias formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos àqueles que são diferentes” (nº 86). A fé deve ajudar a manter vivo o senso crítico diante da realidade.
A encíclica Fratelli Tutti, escrita em 2020, ensina que a “estatura espiritual de uma vida humana é medida pelo amor, que constitui ‘o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade de uma vida humana’ (DCE, n. 15). Todavia, há pessoas que creem que pensam que a sua grandeza está na imposição das suas ideologia dos outros, ou na defesa violenta da verdade, ou em grande demonstrações de força; Todos nós, que cremos, devemos reconhecer isto; em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar (1Cor 13,1-13) (nº 93).
Para o Papa Francisco o “amor que se estende para além das fronteiras está na base daquilo que chamamos ‘amizade social’ em cada cidade ou em cada país. Se for genuína, essa amizade social dentro de uma sociedade é condição para possibilitar uma verdadeira abertura universal. Não se trata daquele falso universalismo de quem precisa viajar constantemente, porque não suporta nem ama o próprio povo. Quem olha para sua gente com desprezo, estabelece na própria sociedade categorias de primeira e segunda classe, de pessoas com mais ou menos dignidade e direitos. Desse modo, nega que haja espaço para todos” (nº 99).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.