Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Si´, publicada em 24 de maio de 2015, afirma que não “é suficiente conciliar, a meio-termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e econômico que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior não pode ser considerado progresso” (nº 194). A qualidade de vida das pessoas diminui com a deterioração do meio ambiente.
Para o Papa precisamos “de uma política que pense com visão ampla e leve adiante uma reformulação integral, abrangendo num diálogo interdisciplinar os vários aspectos da crise. Muitas vezes, a própria política é responsável pelo seu descrédito, graças à corrupção e à falta de boas políticas públicas. Se o Estado não cumpre seu papel numa região, alguns grupos econômicos podem-se apresentar como benfeitores e apropriar-se do poder real, sentindo-se autorizado a não observar certas normas até de chegar às diferentes formas de criminalidade organizada, tráfico de pessoas, narcotrá fico e violência muito difíceis de erradicar” (nº 197).
Laudato Si´ adverte que muitas “coisas devem reajustar o próprio rumo, mas antes de tudo é a humanidade que precisa mudar. Falta a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos. Essa consciência basilar permitiria o desenvolvimento de novas convicções, novas atitudes e novos estilos de vida. Surge, assim, um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração” (nº 202). O mercado cria atitudes consumistas para vender seus produt os e incentivar gastos supérfluos.
O Papa nos adverte que a “consciência da gravidade da crise cultural e ecológica precisa traduzir-se em novos hábitos. Muitos estão cientes de que não basta o progresso atual e a mera acumulação de objetos ou prazeres para dar sentido e alegria ao coração humano, mas não se sentem capazes de renunciar àquilo que o mercado lhes oferece. Nos países que deveriam realizar as maiores mudanças nos hábitos de consumo, os jovens têm uma nova sensibilidade ecológica e um espírito generoso, e alguns deles lutam admiravelmente pela defesa do meio ambiente...” (nº 209).
A encíclica Laudato Si´ ensina que é “muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, separar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos...” (nº 211).
Papa Francisco manifesta seus desejos: “Espero também que, nos nossos Seminários e nas Casas Religiosas de Formação, eduque-se para uma austeridade responsável, a grata contemplação do mundo, o cuidado da fragilidade dos pobres e do meio ambiente” (nº 214) e desejo “propor aos cristãos algumas linhas de espiritualidade ecológica que nascem das convicções da nossa fé, pois aquilo que o Evangelho nos ensina tem consequências em nosso modo de pensar, sentir e viver” (nº 216). Ele ainda propõe que se retome o hábito de agradecer a Deus antes e depois das refeições.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Laudato Si’. Carta encíclica sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulus/Loyola, 2015.