O Papa João Paulo II, em sua encíclica Centesimus Annus, celebrando os 100 anos da encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, afirma que após “a queda do totalitarismo comunista e de muitos outros regimes totalitários e de ‘segurança nacional’, assistimos hoje à prevalência, não sem contrastes, do ideal democrático, em conjunto com uma viva atenção e preocupação pelos direitos humanos. Mas, exatamente por isso, é necessário que os povos, que estão reformando os seus regimes, dêem à democracia um autêntico e sólido fundamento mediante o reconhecimento explícito dos referidos direitos” (p.734).
A encíclica reconhece que a Igreja, “fiel ao mandato de Cristo, seu Fundador, sempre esteve presente com as suas obras para oferecer ao homem carente um auxílio material que não o humilhe e não o reduza a ser apenas objeto de assistência, mas o ajude a sair da sua precária condição, promovendo a sua dignidade de pessoa. Com profunda gratidão a Deus, deve-se registrar que a caridade operativa nunca faltou na Igreja, verificando-se até um variado e reconfortante incremento hoje” (p.736). O voluntariado é sempre incentivado e exercido em suas iniciativas.
O Papa esclarece que o “indivíduo é hoje muitas vezes sufocado entre os dois pólos: o Estado e o mercado. As vezes dá a impressão de que ele existe apenas como produtor e consumidor de mercadorias ou então como objeto da administração do Estado, esquecendo-se que a convivência entre os homens não se reduz ao mercado nem ao Estado, já que a pessoa possui em si mesma um valor singular, ao qual devem servir o Estado e o mercado. O homem é, acima de tudo, um ser que procura a verdade e se esforça por vive-la e aprofundá-la num diálogo contínuo que envolve as gerações passadas e as futuras” (p.737).
A Igreja nos ensina que a paz é fruto da justiça, mas João Paulo II acrescenta que “o outro nome de paz é o desenvolvimento. Como existe a responsabilidade coletiva de evitar a guerra, do mesmo modo há a responsabilidade coletiva de promover o desenvolvimento. Como em nível interno é possível e obrigatório construir uma economia social que oriente o funcionamento do mercado para o bem comum, assim é necessário que haja intervenções adequadas em nível internacional. Por isso deve-se fazer um grande esforço de recíproca compreensão, de conhecimento e de sensibilização da consciência” (p.739).
Centesimus Annus ensina que a “doutrina social hoje especialmente visa ao homem, enquanto inserido na complexa rede de relações das sociedades modernas. As ciências humanas e a filosofia servem de ajuda para interpretar a centralidade do homem dentro da sociedade, e para o capacitarem a uma melhor compreensão de si mesmo, enquanto ‘ser social’. Todavia somente a fé lhe revela plenamente a sua verdadeira identidade, e é dela precisamente que parte a Doutrina Social da Igreja, que, recolhendo todos os contributos das ciências e da filosofia, propõe-se assistir o homem no caminho da salvação” (p.740).
A encíclica de João Paulo II mostra que a “Igreja está consciente hoje mais que nunca de que a sua mensagem social encontrará credibilidade primeiro no testemunho das obras e só depois na sua coerência e lógica interna. Desta convicção provém também a sua opção preferencial pelos pobres, que nunca será exclusiva nem discriminatória relativamente aos outros grupos. Trata-se, de fato, de uma opção que não se estende apenas à pobreza material, dado que se encontram, especialmente na sociedade moderna, formas de pobreza não só econômica mas também cultural e religiosa” (p.742).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.