Na encíclica Centesimus Annus, o Papa João Paulo II afirma que a sociedade do consumo mostra “como uma sociedade de livre mercado pode conseguir uma satisfação mais plena das necessidades materiais humanas que a defendida pelo comunismo, e excluindo igualmente os valores espirituais. Na verdade, se por um lado é certo que este modelo social mostra a falência do marxismo ao construir uma sociedade nova e melhor, por outro lado, negando a existência autônoma e o valor da moral, do direito, da cultura e da religião, coincide com ele na total redução do homem à esfera do econômico e da satisfação das necessidades materiais” (p.710).
A encíclica salienta a participação da Igreja neste “difícil, mas fecundo caminho de transição para formas políticas mais participativas e mais justas. Contributo importante, mesmo decisivo, veio do empenho da Igreja na defesa e promoção dos direitos do homem: em ambientes fortemente ideologizados, onde a filiação partidária ofuscava os sentimentos da dignidade humana comum, a Igreja, com simplicidade e coragem, afirmou que todo homem – sejam quais forem as suas convicções pessoais – traz gravada em si a imagem de Deus e, por isso, mereça respeito” (p.711). A Igreja não se omitiu em seu trabalho de conscientização.
Centesimus Annus ensina que a “verdadeira causa das mudanças, porém, está no vazio espiritual provocado pelo ateísmo, que deixou as jovens gerações privadas de orientação e induziu-as em diversos casos, devido à irreprimível busca da própria pessoa de Cristo, como resposta existencialmente adequada ao desejo de bem, de verdade e de vida que mora no coração de cada homem” (p.713). “Na crise do marxismo ressurgem as formas espontâneas da consciência operária, que exprimem um pedido de justiça e reconhecimento da dignidade do trabalho, segundo a Doutrina Social da Igreja” (p.715).
A Igreja colaborou, e bastante, para a queda do marxismo em muitos países. “Ela faz sobressair mais claramente a realidade da interdependência dos povos, bem como o fato de o trabalho humano, por sua natureza, estar destinado a unir os povos, e não a dividi-los. A paz e prosperidade, de fato, são bens que pertencem, por natureza, a todo o gênero humano, de tal modo que não é possível gozar deles de forma correta e duradoura, se forem obtidos e conservados em prejuízo de outros povos e nações, violando os seus direitos, ou excluindo-os das fontes do bem-estar” (p.716).
No reconhecimento dos direitos da consciência humana “está o fundamento principal de toda ordenação política autenticamente livre” (p.717). Nos países desenvolvidos “às vezes é feita uma excessiva propaganda dos valores puramente utilitários, com uma solicitação desenfreada dos instintos e das tendências ao prazer imediato, o que torna difícil o reconhecimento e o respeito da hierarquia dos verdadeiros valores da existência humana [...]. Este direito, fundamental para a autonomia e o desenvolvimento da pessoa, foi sempre defendido pela Igreja até aos nossos dias” (p.718).
O Santo Papa Polonês mostra que “Deus deu a Terra a todo o gênero humano, para que ela sustente todos os seus membros sem excluir nem privilegiar ninguém. Está aqui a raiz do destino universal dos bens da terra. Esta, pela sua própria fecundidade e capacidade de satisfazer as necessidades do homem, constitui o primeiro dom de Deus para o sustento da vida humana. Ora, a terra não dá os seus frutos sem uma peculiar resposta do homem ao dom de Deus, isto é, sem o trabalho: é mediante o trabalho que o homem, usando da sua inteligência e liberdade, consegue dominá-la e estabelecer nela a sua digna morada” (p.719).
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.