A encíclica Sollicitudo Rei Socialis diz que as “decisões que impulsionam ou refream o desenvolvimento dos povos outra coisa não são efetivamente senão fatores de caráter político. Para superar os mecanismos perversos [...] e substituí-los por outros novos, mais justos e mais conformes ao bem comum da humanidade, é necessária uma vontade política eficaz. Infelizmente, depois de se ter analisado a situação, é forçoso concluir que ela foi insuficiente” (p.673) e que escondem ”verdadeiras formas de idolatria: do dinheiro, da ideologia, da classe e da tecnologia” (p.675).
O Papa João Paulo II salienta que até os desprovidos de uma fé explícita podem “convencer-se de que os obstáculos interpostos ao desenvolvimento integral não são apenas de ordem econômica, mas dependem de atitudes mais profundas que, para o ser humano, se configuram em valores absolutos” (p.676). Ele afirma que o fato das pessoas, “em várias partes do mundo, sentirem como próprias as injustiças e as violações dos direitos humanos cometidas em países longínquos, que talvez nunca visitem, é mais um sinal de uma realidade interiorizada na consciência, adquirindo assim uma conotação moral” (p.676).
A prática da solidariedade “é válida quando os seus membros se reconhecem uns aos outros como pessoas. Aqueles que contam mais, dispondo de uma parte maior de bens e de serviços comuns, há de se sentir responsáveis pelos mais fracos e estar dispostos a compartilhar com eles o que possuem” (p.677). É positiva “a maior consciência de solidariedade dos pobres entre si, as suas intervenções de apoio recíproco e as manifestações públicas no cenário social sem fazer recurso à violência, mas fazendo presentes as próprias necessidades e os próprios direitos perante a ineficácia e a corrupção dos poder es públicos” (p.677).
João Paulo II enfatiza que a Igreja não “propõe sistemas ou programas econômicos e políticos, nem manifesta preferências por uns ou por outros, contanto que a dignidade do homem seja devidamente respeitada e promovida e a ela própria seja deixado o espaço necessário para desempenhar o seu ministério no mundo” (p.680). “A Doutrina Social da Igreja não é uma ‘terceira’ via entre capitalismo liberalista e coletivismo marxista, nem sequer uma possível alternativa a outras soluções menos radicalmente contrapostas: ela constitui por si mesma uma categoria” (p.680).
A encíclica ensina que o “exercício do ministério da evangelização em campo social, que é um aspecto do múnus profético da Igreja, compreende também a denúncia dos males e das injustiças. Mas convém esclarecer que o anúncio é sempre mais importante do que a denúncia; e esta não pode prescindir daquele, pois é isso que lhe dá a verdadeira solidez e a força da motivação mais alta” (p.681). O amor preferencial pelo pobre “não pode deixar de abranger as imensas multidões de famintos, de mendigos, sem-teto, sem assistência médica e, sobretudo, sem,e sperança de um futuro melhor [...]” (p.681).
O Papa conclui que um “desenvolvimento somente econômico não está em condições de libertar o homem: pelo contrário, acaba até por escraviza-lo mais. Um desenvolvimento que não abranja as dimensões culturais, transcendentes e religiosas do homem e da sociedade menos ainda contribui para a verdadeira libertação, à medida que não reconhece a existência de tais dimensões e não orienta para elas as próprias metas e prioridades. O ser humano será totalmente livre só quando for ele mesmo, na plenitude dos seus direitos e deveres; o mesmo se deve dizer da sociedade inteira” (p.685).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.