A encíclica Sollicitudo Rei Socialis sobre o desenvolvimento autêntico do homem e da sociedade foi escrita pelo Papa João Paulo II e lançada em 30 de dezembro de 1987, comemorando os 20 anos da encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI. São João Paulo II quer atingir dois objetivos com esta encíclica: “por um lado, render homenagem a este histórico documento de Paulo VI e ao seu ensinamento; e por outro [...] reafirmar a continuidade da Doutrina Social da Igreja e, conjuntamente, a constante renovação” (p.644). Estas duas encíclicas dão uma excelente contribuição para a Doutrina Social da Igreja.
A encíclica Populorum Progressio “atraiu a atenção da opinião pública pela sua novidade. Deu-se o ensejo de verificar, certamente e com grande clareza, as mencionadas características de continuidade e de renovação, no âmago da Doutrina Social da Igreja. Por isso, o intuito de descobrir numerosos aspectos deste ensinamento, mediante uma releitura atenta da encíclica, constituirá o fio condutor das presentes reflexões” (p.645). O documento do Papa Paulo VI “apresenta-se, de certo modo, como um documento de aplicação dos ensinamentos do Concílio” (p.645).
A Doutrina Social da Igreja “reivindicou mais uma vez o seu caráter de aplicação da Palavra de Deus à vida dos homens e da sociedade assim como às realidades terrenas que com elas se relacionam, oferecendo ‘princípios de reflexão’, ‘critérios de julgamento’ e ‘diretrizes de ação’. Ora, no documento de Paulo VI encontram-se estes três elementos, com uma orientação predominantemente prática, isto é, ordenada para o comportamento moral” (p.647). As multidões humanas “privadas dos bens e dos serviços proporcionados pelo desenvolvimento são bastante mais n umerosas do que as que dispõem deles” (p.648).
Os responsáveis da coisa pública, “de modo especial se forem cristãos, têm a obrigação moral – de acordo com o respectivo grau de responsabilidade – de levar em consideração nas decisões pessoais e governamentais a relação de universalidade, a interdependência que subsiste entre os seus comportamentos e a miséria e o subdesenvolvimento de tantos milhões de homens” (p.648). O verdadeiro desenvolvimento não pode ser “obtido à custa do subdesenvolvimento das multidões, sem a consideração devida pelas dimensões sociais, culturais e espirituais do ser humano” (p.649).
As fronteiras da riqueza e da pobreza “passam pelo interior das próprias sociedades, quer desenvolvidas, quer em vias de desenvolvimento. De fato, assim como existem desigualdades sociais até os extremos da miséria em países ricos, assim, em contraposição, nos países menos desenvolvidos, também se vêem, não raro, manifestações de egoísmo e de ostentação de riqueza, tão desconcertantes quanto escandalosas” (p.651). Estas pragas “são sem dúvida mais frequentes, mais duradouras e mais difíceis de eliminar nos países em vias de desenvolvimento e menos progressistas” (p.652).
Papa João Paulo II afirma que “o subdesenvolvimento dos nossos dias não é apenas econômico: é também cultural, político e simplesmente humano, como já há vinte anos evidenciava a encíclica Populorum Progressio” (p. 653). Continua o Papa: “É necessário denunciar a existência de mecanismos econômicos, financeiros e sociais que, embora conduzidos pela vontade dos homens, funcionam muitas vezes de maneira quase automática, tornando mais rígidas as situações de riqueza de uns e de pobreza de outros” (p.654). A falta de habitação, o desemprego e o subemprego colaboram muito p ara isso.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.