A Carta Apostólica Octogesima Adveniens, sobre as necessidades novas de um mundo em transformação, foi escrita em 14 de maio de 1971 pelo Papa Paulo VI e dirigida ao cardeal canadense Maurice Roy, primeiro presidente do Conselho dos Leigos e da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, celebrando os 80 anos da publicação da Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, “cuja mensagem continua a inspirar a ação em ordem à justiça social, anima-nos a retomar e a prosseguir o ensino dos nossos predecessores, em resposta às necessidades novas de um mundo em transformação” (p.563).
O Papa Paulo VI questiona a situação dos moradores das zonas rurais dizendo que após “longos séculos, a civilização agrícola perdeu o seu valor. Será que se dispensa, de resto, uma atenção suficiente ao condicionamento e ao melhoramento da vida das populações rurais, cuja condição econômica inferior e, por vezes, miserável, provoca o êxodo em direção aos tristes amontoados dos subúrbios onde não as esperam nem trabalho nem alojamento? (p.566). O êxodo rural ocasiona um crescimento desordenado nas cidades e faz aparecer um novo proletariado.
Os antigos moradores na zona rural instalam-se “no coração das cidades que os ricos por vezes abandonam; ou então acampam nos arrabaldes, molduras de miséria, que começam a importunar, numa forma de protesto ainda silenciosa, o luxo demasiado gritante das cidades do consumo e do esbanjamento. Assim, em lugar de favorecer o encontro fraterno e ajuda mútua, a cidade, pelo contrário, desenvolve discriminações e também indiferenças; ela presta-se pra novas formas de exploração e de domínio, em que uns especulam com as necessidades dos outros, disso auferindo lucros inadmissíveis” (p.567).
Os cristãos são chamados a colaborar na construção da cidade com novos modos de vizinhança e de relações e aplicando a justiça social. Nessas cidades, os sindicatos têm papel importante, pois “eles têm por objetivo a representação das diversas categorias dos trabalhadores, a sua legítima colaboração no progresso econômico da sociedade e o desenvolvimento do seu sentido de responsabilidade, para a realização do bem comum.” (p.569). É claro que com essa mudança da zona rural para as cidades surgem novos problemas sociais que esperam de todos uma solução pacífica.
Paulo VI diz que cristãos “sentem-se atraídos pelas correntes socialistas e pelas suas diversas evoluções. Eles procuram descobrir aí um certo número de aspirações, que acalentam em si mesmos, em nome da sua fé. Em determinado momento têm a sensação de estar inseridos numa corrente histórica e querem realizar aí uma tal ou qual ação. Mas sucede que, conforme os continentes e as culturas, esta corrente histórica assume formas diversas, sob um mesmo vocábulo; contudo, tal corrente foi e continua a ser, em muitos casos, inspirada por ideologias incompatíveis com a fé cristã. Impõe-se, por conseguinte, um discernimento atento” (p.576).
A Doutrina Social da Igreja acompanha os homens na busca de soluções dos problemas e na tomada de consciência. “Se ela não intervém para autenticar uma estrutura estabelecida ou para propor um modelo pré-fabricado, também não se limita a recordar alguns princípios gerais. Ao contrário, ela é algo que se desenvolve por meio de uma reflexão que é feita em permanente contacto com as situações deste mundo, suscetíveis de mudanças, sob o impulso do Evangelho, qual fonte de renovação, enquanto que a sua mensagem é aceita na sua totalidade e nas suas exigências” (p.581).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.