Nos artigos antecedentes vimos que do coração enfermo do homem, enquanto indivíduo, brota a corrupção; que o pecado conduz à corrupção e ao afastamento de Deus; e que o corrupto costuma justificar suas condutas mentindo com sofisticação, erigindo-se como juiz e medida moral para os outros, sempre “piores” do que ele.
O Cardeal Bergoglio também dedicou um capítulo de seu livro discorrendo que o corrupto, do juízo arrogantemente maioral que faz das outras pessoas, salta para a desfaçatez. “A corrupção leva a perder o pudor que guarda a verdade (...). A corrupção se move em outro plano que o do pudor”, explicando seu pensamento com um simples exemplo em que se percebe o grau de decadência da alma corrupta: “Roubar a bolsa de uma senhora é pecado: o trombadinha vai preso, a mulher conta a suas amigas o que aconteceu, todas concordam que o munda anda mal e que as autoridades teriam que tomar medidas, pois não se pode sair à rua... E a senhora em questão, a assaltada pelo trombadinha, nem pensa em como seu marido, nos negócios, engana o Estado não pagando os impostos, e despede os empregados a cada três meses para evitar vínculo empregatício etc. E seu marido, e ela também, quem sabe, nas reuniões se orgulham dessas manhas empresariais e comerciais. A isso chamo de desfaçatez pudica”.
Afirmação que não quer uma vez mais calar: qualquer semelhança com a realidade atual não seria mera coincidência. E para justificar essa afirmativa, pare por instantes e traga à memória alguns personagens do mundo político; depois, tire suas próprias conclusões.
Mas vamos prosseguir com outro traço característico da corrupção: o triunfalismo, entendido como sentimento exagerado de “vitória”. Esclarece nosso Papa: “O triunfalismo é o caldo de cultura ideal de atitude corruptas, pois a experiência diz que essas atitudes dão bom resultado, e assim a pessoa se sente ganhadora, triunfa. O corrupto se confirma e ao mesmo tempo avança nesse ambiente triunfal. Tudo vai bem”.
Essa característica causa no corrupto uma perversa sensação de “vitória”, mas que na realidade é uma derrota moral, não passando de falso e cego “triunfo”, de maneira que, impossibilitado de perceber a necessidade de se emendar, o corrupto sequer se sente em estado de pecado, pois “triunfou”.
Ainda no seu relacionamento com os outros, o corrupto “não conhece a fraternidade ou a amizade, só a cumplicidade”. E que perigo isso acarreta, pois nesse passo dificilmente terá alguma consideração ou gratidão a quem lhe seja próximo, mesmo que contribua para seus projetos pessoais, pois quando não mais precisar usar das pessoas as descartará e as abandonará à própria sorte.
A essa altura de suas reflexões, Papa Francisco elabora outra interessante comparação entre o pecado e a corrupção: “Há três características de toda tentação ao pecado: a tentação cresce, contagia e se justifica. Essas mesmas características aparecem, mas de modo diverso, no estado de corrupção. A corrupção se consolida, convoca e assenta doutrina”.
No próximo mês, se assim Deus o permitir, será concluída essa temática entre corrupção e pecado. E aproveitando o Tempo de Quaresma em que vivemos, fica renovado e reforçado o convite para, a partir destas linhas e as dos artigos anteriores, olharmos para dentro de nós e debelarmos toda e qualquer escuridão com a Luz do Espírito Santo e o sempre providencial auxílio da Mãe de Deus, corredentora e intercessora nossa, para que possamos ser ajudados a escolher, trilhar e permanecer nos caminhos do Senhor!
Fraternal abraço a todos!