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Corrupção e pecado: reflexões a respeito da corrupção – II

Publicado em 7 de março de 2022 - 08:45:29

Dando sequência ao artigo do mês passado, necessária se faz uma rápida recapitulação acerca das primeiras considerações do pensamento de Papa Francisco sobre a corrupção e o pecado: o coração do homem é a central difusora de corrupção; antes de ser um mal “social”, a corrupção nasce de indivíduos de coração corrupto; o pecado conduz à corrupção, não pela quantidade, mas pela qualidade que, paulatinamente, leva o sujeito ao afastamento de Deus; o corrupto não percebe o estado de sua alma, mas a Graça de Deus pode salvá-lo.

Sendo que o coração do corrupto é um órgão enfermo, ele empreenderá todos os esforços para “sempre manter as aparências: Jesus chamará de sepulcros caiados um dos setores mais corruptos de seu tempo (cf. Mt 23,25-28)”. E ainda: ele “cultivará, até o requinte, seus bons modos (...) para dessa maneira poder esconder seus maus costumes”, nessa parte do texto abrindo nosso Papa uma nota de rodapé em que o exemplifica naqueles dirigentes políticos que posam de “vestais”, de “inesperados guardiães do templo da honestidade pública”.

Qualquer semelhança com a realidade atual não seria mera coincidência, tendo precisão cirúrgica a afirmação de que “um corrupto de ambição de poder aparecerá com certa veleidade ou superficialidade que o leva a mudar de opinião ou a se reacomodar conforme as situações”.

O corrupto tem um jeito próprio para justificar suas condutas. “Em primeiro lugar, justifica-se por referência a situações extremas, exageradas ou que em si são ruins”, como “injustiça, adultério”, comparando aparência com realidade. O outro modo de justificativa que costuma lançar mão está em fazer uma caricatura, uma imagem distorcida, com as circunstâncias que lhe dizem respeito e que lhe são embaraçosas, dando interpretações aos fatos com a conveniência aparentemente mais favorável. Mente com sofisticação, é o que se poderia reta e diretamente afirmar.

Da comparação avança-se perigosamente ao juízo da(s) outra(s) pessoa(s) ou situação(ões), mas sempre mantendo a dissimulação da realidade: “Ao se comparar, o corrupto se erige em juiz dos outros: ele é a medida do comportamento moral”, “superior” a todo e qualquer um que se lhe oponha. Posa de “equilibrado, como um centrista; e quando as circunstâncias o obrigam a tomar medidas desmesuradas que denunciariam sua corrupção, a mostrar um desequilíbrio, sabe demonstrar que esse desequilíbrio era necessário para um equilíbrio maior”.

Não nos enganemos de que se trata de um “desequilíbrio tático”, de pura conveniência, pois o corrupto, para não ser desmascarado, lutará para jamais perder a posição de “juiz da história”, ou melhor: “O” “juiz da história”.

O corrupto, por fim, rompe com toda e qualquer retidão de caráter e, na escalada destrutiva em que se situa, sente-se “além do outro”, “melhor” do que o outro, “exemplo” para o outro, saltando, então, para a desfaçatez, definida como a completa perda de pudor que guarde a verdade.

Seguiremos, mês que vem, deste ponto de parada, novamente deixando o convite para nos avaliarmos de modo delicado e não menos aprofundado, rogando ao Espírito Santo, Esposo da nossa Igreja, a sabedoria necessária para um adequado discernimento, e a Maria Santíssima, Senhora e Mãe de todas as virtudes.

Fraternal abraço a todos!

Rogério Sartori Astolphi

Juiz de Direito

 

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