A encíclica Pacem in Terris salienta que “é necessário que as nações mais ricas, ao socorrerem, de qualquer modo, as mais necessitadas, respeitem com todo o cuidado e as características próprias de cada povo e as suas instituições tradicionais, e igualmente se abstenham de qualquer intento de domínio político. Se assim procederem, ‘dar-se-á uma contribuição preciosa pra a formação de uma comunidade mundial dos povos, na qual todos os membros sejam conscientes dos seus direitos e dos seus deveres e trabalhem em igualdade de condições para a realização do bem comum universal’” (p.445).
João XXIII admoesta que o “é evidente que nenhum país pode, isoladamente, zelar convenientemente os seus interesses e o seu próprio desenvolvimento, porquanto a prosperidade e o desenvolvimento de um país são, em parte, resultado e ao mesmo tempo causa de prosperidade e desenvolvimento das outras nações“ (p.446). O Papa ainda diz que o “bem comum universal levanta hoje problemas de dimensão mundial, que não podem ser enfrentados e resolvidos adequadamente senão por poderes públicos que possuam autoridade, estruturas e mais meios de idênticas proporções” (p.447).
Em cada Estado, ensina o Papa Bom, “é preciso que as relações que vigoram entre a autoridade pública e os cidadãos, as famílias e os grupos intermédios se regulem e governem pelo princípio da subsidiariedade, é justo que as relações entre a autoridade pública mundial e as autoridades públicas de cada nação se regulem e rejam pelo mesmo princípio. Isto significa que os problemas econômicos, sociais, políticos ou culturais que devem ser enfrentados e resolvidos pelos poderes públicos da comunidade mundial, hão de ser da alçada do bem comum universal” (p.448).
A encíclica aponta o objetivo fundamental confiado à Organização das Nações Unidas ”assegurar e consolidar a paz internacional, favorecer e desenvolver relações amistosas entre os povos, fundadas nos princípios de igualdade, de respeito mútuo, de cooperação múltipla em todos os setores da atividade humana” (p.449). O Papa exorta os católicos para o “dever de participarem ativamente na vida pública e de colaborarem para a obtenção do bem comum de todo o gênero humano e da própria comunidade política” (p.450) e para facilitar “às pessoas o próprio aperfeiçoamento” (p.450).
A Pacem in Terris insiste que para “imbuir uma civilização de bons princípios e impregná-la de espírito cristão, não basta que os nossos filhos gozem da luz sobrenatural da fé e ardam no desejo de promover o bem; é necessário ainda inserirem-se nas instituições da mesma vida pública e exercerem, dentro delas, uma influência eficaz” (p.450). O Papa adverte que a “inconsequência que não poucas vezes manifestam os cristãos entre a fé e a obra julgamos que é também devida a uma deficiente formação na moral e na doutrina cristã” (p.451).
Papa João XXIII ainda chama a atenção para a “desproporção entre os conhecimentos científicos e a instrução religiosa: a formação científica estende-se até os graus superiores do ensino, enquanto a religiosa permanece em grau elementar” (p.451). Escreve ainda que importa “sempre distinguir entre erro e a pessoa que erra, mesmo que se trate de indivíduos com ideias falsas ou insuficiência de noções no atinente a religião ou moral. O homem que erra não deixa de ser uma pessoa, nem perde nunca a dignidade de ser humano, e portanto sempre merece estima” (p.452).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.