A encíclica Mater et Magistra ensina que entre os países em desenvolvimento a “cooperação técnica e financeira se preste com o mais sincero desinteresse político. Deve ter apenas em vista colocar essas comunidades, que pretendem desenvolve-se, em condições de realizarem por si mesmas a própria elevação econômica e social” (p.403). Em alguns desses países “se apresentam realmente dificuldades graves, devidas à existência de uma organização econômica e social deficiente – que não oferece meios de vida proporcionais ao índice do incremento demográfico – e também à insuficiência da solidariedade entre os povos” (p.405).
O Papa João XXIII diz que “as comunidades políticas, separadamente e só com as próprias forças, não têm já possibilidade de resolver adequadamente os seus maiores problemas dentro de si mesmas, ainda que se trate de nações que sobressaem pelo elevado grau e difusão da cultura, pelo número e atividade dos cidadãos, pela eficácia dos sistemas econômicos, e pela extensão e riqueza dos terrítórios. Todas se condicionam mutuamente e pode-se mesmo afirmar que cada uma atinge o próprio desenvolvimento contribuindo para o desenvolvimento das outras. Por isso é que se impõe o entendimento e a colaboração mútuos” (p.407).
O Papa ressalta o grande valor da ordem moral. Para ele, a “ordem moral não pode existir sem Deus. Separada dele desintegra-se, pois o homem não consta só de matéria: é um ser espiritual, dotado de inteligência e liberdade. Exige portanto uma ordem moral e religiosa, que, mais do que todos e quaisquer valores materiais, influa na direção e nas soluções que deve dar aos problemas da vida individual e comunitária, dentro das comunidades nacionais e nas relações entre estas” (p.408). Continua o Papa que “não haverá no mundo justiça nem paz, enquanto os homens não tornarem a sentir a dignidade de criaturas e de filhos de Deus” (p.410).
A encíclica insiste em mostrar a grande importância de Deus na vida das pessoas e das nações. “Sempre fica de pé a verdade de que o aspecto mais sinistramente típico da época moderna consiste na tentativa absurda de se querer construir uma ordem temporal sólida e fecunda prescindindo de Deus, fundamento único sobre que ela poderá subsistir, e querer proclamar a grandeza do homem, secando a fonte de onde ela brota e se alimenta, através da repressão, e, se fosse possível, da extinção das aspirações íntimas do homem, no sentido de Deus (p.410). O Papa enfatiza que a “doutrina social cristã é parte integrante da concepção cristã da vida” (p.411).
João XXIII salienta que não se deve esqueçer “que a verdade e a eficácia da doutrina social católica se manifestam, sobretudo, na orientação segura que oferecem à solução dos problemas concretos. Desta maneira, conseguir-se-á chamar para ela a atenção dos que a desconhecem ou mesmo a combatem por a desconhecerem; talvez se consiga até que no espírito de alguns se faça luz” (p.411). “Uma doutrina social não se enuncia apenas; aplica-se na prática, em termos concretos. Isso vale sobretudo quando se trata da doutrina social cristã, cuja luz é a Verdade, cujo fim é a Justiça, cuja força dinâmica é o Amor” (p.411).
Mater et Magistra mostra que os princípios e as diretrizes sociais desenvolvem em “três fases: estudo da situação; apreciação da mesma à luz desses princípios e diretrizes; exame e determinação do que se pode e deve fazer para aplicar os princípios e as diretrizes à prática, segundo o modo e no grau que a situação permite ou reclama” (p.412). Os progressos científicos e técnicos e o consequente bem-estar material “devem avaliar-se dentro da esfera da sua verdadeira natureza: são só instrumentos ou meios a utilizar para consecução mais eficaz de um fim superior, que é facilitar e promover o aperfeiçoamento espiritual dos seres humanos” (p.414).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.