A encíclica Quadragesimo Anno foi escrita pelo Papa Pio XI para celebrar os 40 anos da magistral encíclica de Leão XIII Rerum Novarum que deu “ao gênero humano regras seguríssimas para a boa solução do espinhoso problema do consórcio humano, isto é, para a chamada questão social, precisamente quando isso era mais oportuno e necessário” (p.321). A situação do mundo no final do século XIX mostrou uma “sociedade cada vez mais dividida em duas classes” (p.321): poucos ricos usufruindo de mordomias e muitos pobres “a gemer na mais calamitosa miséria, esforçando-se em vão por sair da penúria em que se debatia” (p.321).
Esta “diferença tão grande e tão iníqua na distribuição dos bens temporais” (p.322) não podia corresponder aos desígnios do Criador. A encíclica Rerum Novarum não “pediu auxílio ao liberalismo nem ao socialismo, pois o primeiro se tinha mostrado de todo incapaz de resolver convenientemente a questão social, e o segundo propunha um remédio muito pior que o mal, que lançaria a sociedade em perigos mais funestos” (p.322). O Papa Pio XI quis celebrar os 40 anos da encíclica de Leão XIII “para recordar os grandes benefícios que dela dimanaram para a Igreja católica e para a humanidade” (p.323).
Com o “impulso da encíclica de Leão XIII nasceu uma verdadeira ciência social católica, cultivada e enriquecida continuamente pela incansável aplicação daqueles varões escolhidos, que chamamos auxiliares da Igreja” (p.325). Falou o Papa Pio XI, na encíclica lançada em 15 de maio de 1931, que os princípios de sociologia católica “entraram pouco a pouco no patrimônio da sociedade humana; e as verdades eternas, tão altamente proclamadas pela santa memória do nosso predecessor, andam citadas frequentemente e defendidas não só em jornais e livros mesmo acatólicos, mas até nos parlamentos e tribunais” (p.325).
Após esta famosa encíclica de Leão XIII começaram a multiplicar “as obras de caridade e beneficência, mas também foram surgindo, por toda parte e cada vez mais numerosas, as associações de socorros mútuos para operários, artistas, agricultores e jornaleiros de toda espécie, fundadas segundo os conselhos e diretivas da Igreja e ordinariamente sob a direção do clero” (p.326). A influência da encíclica Rerum Novarum foi tão grande que a ela “se deve atribuir em grande parte a melhoria já obtida na condição dos operários” (p.327) e a formação de operários imbuídos de espírito cristão.
Inspirados pelos ensinamentos sociais do Papa Leão XIII, muitos leigos “defendiam eficaz e tenazmente os próprios direitos e interesses temporais, tendo sempre em conta a justiça e o sincero desejo de colaborar com as outras classes para a restauração cristã da vida social” (p.328). Os bons frutos “mostram bem que a boa semente, espalhada há quarenta anos em tão larga abundância, caiu em grande parte em terra fértil; nem é temeridade afirmar que a encíclica Rerum Novarum demonstrou ser, com a longa experiência do tempo, a ‘Magna Carta’” (p.329), na qual se devem basear as atividades cristãs no campo social (p.329).
Pio XI mostrou em sua encíclica que Leão XIII “defendeu tenazmente o direito de propriedade contra as aberrações dos socialistas do seu tempo, mostrando que a destruição do domínio particular reverteria, não em vantagem, mas em ruína da classe operária” (p.331). Também a Rerum Novarum declarou que “é alheio à verdade dizer que se extingue ou se perde o direito de propriedade com o não uso ou abuso dele” (p.332). Disse ainda que “o Estado não tem direito de esgotar a propriedade particular com excessivas contribuições” (p.333) e que “é inteiramente falso atribuir, ou só ao capital ou só ao trabalho, o produto do concurso de ambos” (p.334).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
LESSA, Luiz Carlos. Dicionário de doutrina social da Igreja: doutrina social da Igreja de A a Z. São Paulo: LTr, 2004.