A paz é um dos atributos de Deus e na Bíblia ela é “muito mais do que a simples ausência de guerra: ela representa a plenitude da vida (cf. Mt 2,5)" (p. 273). Jesus Ressuscitado saúda os seus discípulos dando-lhes o presente da paz: “A paz esteja com vocês!”. A paz não é “simplesmente ausência de guerra e tampouco um equilíbrio estável entre forças adversárias, mas se funda sobre uma correta concepção de pessoa humana e exige a edificação de uma ordem segundo a justiça e a caridade” (p.275). Ela é construída no dia a dia e “pode florescer somente quando todos reconhecem as próprias responsabilidades na sua promoção” (p.276).
A paz é fruto da justiça, “entendida em sentido amplo como o respeito ao equilíbrio de todas as dimensões da pessoa humana” (p.275). A paz é fruto do amor. Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, vol.II, q.29, art.3, diz: “A verdadeira paz é mais matéria de caridade que de justiça, pois a função da justiça é somente remover os obstáculos para a paz: a ofensa e o dano; mas a paz, ela mesma, é ato próprio e específico da caridade”. A paz e a violência “não podem habitar na mesma morada, onde há violência aí Deus não pode estar (cf. 1Cr 22,8-9)" (p.273). A promoção da paz é manifestação de nossa fé cristã.
A Igreja proclama “que a violência é má, que a violência como solução para os problemas é inaceitável, que a violência é indigna do homem. A violência é uma mentira, pois que é contrária à verdade da nossa fé, à verdade da nossa humanidade. A violência destrói o que ambiciona defender: a dignidade, a vida, a liberdade dos seres humanos” (p.276). O Magistério condena “‘a desumanidade da guerra’ e pede que seja considerada com uma abordagem completamente nova: de fato, ‘não é mais possível pensar que nesta nossa era atômica a guerra seja um meio apto para ressarcir direitos violados’” (p.277).
A busca das causas que dão origem as guerras são “as que se ligam a situações estruturais de injustiça, de miséria, de exploração, sobre as quais é necessário intervir com o objetivo de removê-las: “Por isso, o outro nome da paz é o desenvolvimento. Como existe a responsabilidade coletiva de evitar a guerra, do mesmo modo há a responsabilidade coletiva de promover o desenvolvimento” (p.278). Os Estados “nem sempre dispõem dos instrumentos adequados para promover eficazmente a própria defesa: disso resulta a necessidade e a importância das Organizações Internacional e Regionais” (p.278).
A Carta das Nações Unidas, elaborada após a Segunda Guerra Mundial, “se baseia na interdição generalizada do recurso à força para resolver as controvérsias entre os Estados, exceto em dois casos: a legítima defesa e as medidas tomadas pelo Conselho de Segurança no âmbito das suas responsabilidades para manter a paz” (p.279). As exigências da legítima defesa “justificam a existência, nos Estados, das forças armadas, cuja ação deve ser posta ao serviço da paz” (p.279), e na proteção e ajuda das “vítimas inocentes que não podem defender-se das agressões” (p.280).
O terrorismo “é uma das formas mais brutais de violência que atualmente afligem a Comunidade Internacional: semeia ódio, morte, desejo de vingança e de represália” (p.285). Proclamar-se terrorista em nome de Deus é profanação e blasfêmia. “Definir como ‘mártires’ aqueles que morrem executando atos terroristas é distorcer o conceito de martírio, que é testemunho de quem se deixa matar por não renunciar a Deus, e não de quem mata em nome de Deus” (p.287). O terrorismo não pode ser tolerado e nem defendido por qualquer religião, que deve promover a paz, incentivando o perdão e a reconciliação.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
Pontifício Conselho “Justiça e Paz”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.