Na criação, só “o homem e a mulher, entre todas as criaturas, foram queridos por Deus ‘à sua imagem’ (Gn 1,27): a eles o Senhor confia a responsabilidade sobre toda a criação, a tarefa de tutelar a harmonia e o desenvolvimento (cf. Gn 1,26-30) (p.255). É a visão bíblica que ‘inspira as atitudes dos cristãos em relação ao uso da terra, assim como ao desenvolvimento da ciência e da técnica’” (p.257). O Magistério ensina que a Igreja não se opõe ao progresso, mas considera a ciência e a tecnologia produtos da criatividade humana e dons de Deus para os homens participarem da obra da criação.
É o próprio Deus que “oferece ao homem a honra de cooperar com todas as forças da inteligência na obra da criação... A mensagem bíblica e o Magistério eclesial constituem os pontos de referência para avaliar os problemas que se apresentam nas relações entre o homem e o ambiente” (p.260). A natureza é um instrumento nas mãos do homem que ele manipula por meio da tecnologia. “Uma correta concepção do ambiente não pode reduzir a natureza a mero objeto de manipulação e desfrute... e nem sobrepô-la em dignidade à própria pessoa humana” (p.261).
O Magistério “enfatiza a responsabilidade humana de preservar um ambiente íntegro e saudável para todos” (p.262). É um dever para toda a humanidade respeitar e cuidar do ambiente destinado a todos. A biodiversidade tem um valor muito grande e homens e animais “devem sentir-se comprometidos a proteger o patrimônio florestal e, onde necessário, promover adequados programas de reflorestamento” (p.263). O Papa João Paulo II, na sua Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 1990, enfatizou que cada Estado tem “a tarefa de prevenir a degradação da atmosfera e da biosfera”.
Não bastam apenas normas jurídicas para defender o ambiente, mas é preciso “amadurecer um forte senso de responsabilidade, bem como uma efetiva mudança nas mentalidades e nos estilos de vida” (p.264), sabendo que “os recursos naturais são limitados e alguns não são renováveis” (p.265). O clima também deve ser protegido. Todos os países “devem perceber como urgente a obrigação de reconsiderar as modalidades do uso dos bens naturais. A busca de inovações capazes de reduzir o impacto sobre o ambiente provocado pela produção e pelo consumo deve ser eficazmente incentivada” (p.265).
As novas possibilidades “oferecidas pelas atuais técnicas biológicas e biogenéticas suscitam, de um lado, esperanças e entusiasmos e, de outro, alarme e hostilidade” (p.267). A promoção dos povos menos desenvolvidos “não será, porém, autêntica e eficaz, se se reduz ao intercâmbio de produtos. É indispensável favorecer também a maturação de uma necessária autonomia científica e tecnológica por parte daqueles mesmos povos, promovendo também os intercâmbios de conhecimentos científicos e as tecnologias, bem como a transferência de tecnologias” (p.268).
A doutrina social no campo da ecologia “convida a ter presente que os bens da terra foram criados por Deus para serem sabiamente usados por todos: tais bens devem ser divididos com equidade, segundo a justiça e a caridade” (pp.269-270). A água “não pode ser tratada como uma mera mercadoria entre outras, e o seu uso deve ser racional e solidário” (p.271), pois sem água a vida é ameaçada e “o direito à água é um direito universal e inalienável” (p.272). Os problemas ecológicos exigem mudança de mentalidade e novos estilos de vida. Todos os homens e as mulheres precisam dar a sua contribuição.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.