A doutrina social da Igreja, “além dos princípios que devem presidir à edificação de uma sociedade digna do homem, indica também valores fundamentais” (2005, p.119). A relação entre princípios e valores é de reciprocidade, pois “os valores sociais expressam o apreço que se deve atribuir àqueles determinados aspectos do bem moral que os princípios se propõem conseguir, oferecendo-se como pontos de referência para a oportuna estruturação e a condução ordenada da vida social” (p.119). Os valores sociais fazem parte da dignidade da pessoa humana e são: a verdade, a liberdade, a justiça e a caridade.
A prática desses valores é “a via segura e necessária para alcançar um aperfeiçoamento pessoal e uma convivência social mais humana; eles constituem a referência imprescindível para os responsáveis pela coisa pública” (p.120). Por isso, os seres humanos são obrigados a procurar sempre a verdade, respeitando-a e testemunhando-a com responsabilidade. A “convivência entre os seres humanos em uma comunidade é efetivamente ordenada, fecunda e condizente com a sua dignidade de pessoas quando se funda na verdade” (p.120). A verdade deve ser promovida em todos os ambientes sociais.
A liberdade é “sinal da sublime dignidade de toda pessoa humana” (p.121), quando a pessoa não se submete a qualquer força constrangedora. A liberdade é exercida no relacionamento entre as pessoas que podem fazer o que quiserem, desde que não interfiram na liberdade alheia ou sejam proibidas pela legislação. “Toda pessoa humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser reconhecida como ser livre e responsável. Todos devem a cada uma esta obrigação de respeito. O direito ao exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana” (p.121).
A justiça, qualidade do que está de acordo com o que é direito, com o que é justo, é um valor que acompanha o exercício de uma das quatro virtudes morais cardeais. Na formulação mais clássica, ela “consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido” (Catecismo da Igreja Católica, número 1.807). “Para Deus, justiça e misericórdia não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões de uma única realidade que se desenvolve progressivamente até alcançar o seu ápice na plenitude do amor gratuito” (SORGE, 2018, p.133).
Entre as virtudes “no seu conjunto e, em particular, entre virtudes, valores sociais e caridade, subsiste um profundo liame, que deve ser cada vez mais acuradamente reconhecido. A caridade, não raro confinada ao âmbito das relações de proximidade, ou limitada aos aspectos somente subjetivos do agir para com o outro, deve ser reconsiderada no seu autêntico valor de critério supremo e universal de toda a ética social” (p.123). A caridade pressupõe a justiça e uma deve completar a outra, mas somente a caridade “é capaz de restituir o homem a si próprio” (p.124).
A caridade, na sua prática, deve se tornar social e política. A caridade social “nos leva a amar o bem comum e a buscar efetivamente o bem de todas as pessoas, consideradas não só individualmente, mas também na dimensão social que as une” (p.125). A opção preferencial pelos pobres, assumida pela Igreja seguindo o Evangelho, “nos fará assemelhar-nos ao Pai misericordioso e contribuirá como sinal e fermento para encontrar a justiça e o amor nas relações entre os homens irmãos (SORGE, 2018, p. 139). Os valores fundamentais da vida social valorizam todos que os assumem nas próprias vidas.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIAS
PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.
SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas, 2018.