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Palavra do Bispo: Quem é o maior?

Publicado em 22 de setembro de 2021 - 17:22:07

A vida em sociedade exige uma forma de organização para manter a ordem. Para sustentar essa organização, precisamos de pessoas que exerçam funções e também de uma hierarquia entre as funções. A cidade, o estado e o país têm governos e cada qual tem sua atribuição. Sem essa estrutura, a vida em sociedade seria uma anarquia, uma grande confusão. A ordem e paz social exigem governo e atenção ao cumprimento das leis, para o bem comum.

No caminho para a Terra Prometida, Moises estava cansado pelas muitas tarefas e foi nesse contexto que ele recebeu o conselho de seu sogro Jetro. Moises, então, dividiu suas responsabilidades com outras lideranças do povo e, dessa forma, foi estabelecida uma hierarquia no governo e nas tarefas a serem executadas. O conselho de Jetro tornou-se, assim, uma referência para o governo e para a vida social do povo de Deus.

Quando Jesus iniciou a sua missão, ele constituiu um grupo de discípulos mais próximos e com eles fez um caminho particular. Os discípulos foram aprendendo de Jesus o que é ser discípulo, acompanhando a pregação e sobretudo vendo a forma como Jesus agia. Mas também os discípulos tiveram dificuldades em entender a lógica do Reino proposta por Jesus. O ensinamento sobre o mistério da Cruz certamente foi o ponto mais difícil.

O Evangelho afirma que em uma das viagens missionárias, enquanto atravessavam a Galileia, os discípulos tiveram uma discussão sobre qual deles seria o maior. A discussão seria apenas mais uma conversa, se o próprio Jesus não tivesse se interessado por ela e não a tivesse usado para falar da ordem das coisas no Reino. Com paciência, Jesus afirmou: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35).

A organização e a condução do Povo de Deus exigem uma estrutura, sobre isso não há dúvida. Porém, essa estrutura não pode ser baseada no exercício do poder, e sim do serviço. Esse é o diferencial apresentado por Jesus. Sem essa compreensão, a vaidade do poder invade a estrutura e corrompe todas as coisas, principalmente a relação entre as pessoas, que passam a agir em busca de alianças e interesses. Será que isso acontece em nossas comunidades?

Toda corrupção é, antes de tudo, fruto do pecado original. Esse fato não pode ser esquecido e exige conversão. O Papa Francisco afirma que a reforma das estruturas exige a conversão pastoral, ou seja, a mudança de vida. A primeira conversão é a dos discípulos, que precisam se adequar e aprender a pensar como Deus (Mc 8,33). A mudança das estruturas eclesiais e pastorais é uma mudança de mentalidade e de atitudes. Ela se concretiza na acolhida das pessoas e no serviço. 

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

 

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