Para a Igreja, toda pessoa é imagem viva de Deus, que a criou homem e mulher. “Toda a vida social é expressão do seu inconfundível protagonista: a pessoa humana. De tal fato a Igreja sempre soube, amiúde e de muitos modos, fazer-se intérprete autorizada, reconhecendo e afirmando a centralidade da pessoa humana em todo âmbito e manifestação da sociabilidade” (p. 71). A pessoa representa o coração e a alma do ensinamento social católico. “Toda a doutrina social se desenvolve, efetivamente, a partir do princípio que afirma a intangível dignidade da pessoa humana” (p. 72).
Por ter sido criado à imagem de Deus, “o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas uma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com o seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar” (p. 72). O ser humano não é um ser solitário, mas um ser social, pois se relaciona com os outros, sem os quais não consegue viver nem desenvolver suas habilidades. Todos vivemos na interdependência.
O homem e a mulher “têm a mesma dignidade e são de igual nível e valor, não só porque ambos, na sua diversidade, são imagem de Deus, mas ainda mais profundamente porque é imagem de Deus o dinamismo de reciprocidade que anima o nós do casal humano” (p. 73). Com esta vocação para a vida, o homem e a mulher se encontram também diante das outras criaturas. Eles podem e devem submetê-las ao próprio serviço e usufruir delas, mas o seu senhorio exige responsabilidade e ao dar o nome as criaturas eles reconhecem as coisas por aquilo que são e criam com cada uma delas uma relação de responsabilidade.
As faculdades espirituais próprias do homem, e que são suas prerrogativas enquanto criado à imagem de Deus, são a razão, o discernimento do bem e do mal, a vontade livre. A consequência do pecado, chamado original e enquanto ato de separação de Deus, a ruptura do homem não só com Deus, mas também consigo mesmo, com os demais homens e com o mundo a sua volta. Todo pecado é pessoal por um lado e social de outro, pois tem também consequências sociais. Porém, não se pode eliminar seu componente pessoal, “para admitir somente as culpas e responsabilidades sociais” (p. 77).
É pecado social o cometido contra a justiça, contra os direitos da pessoa humana, contra a integridade física de alguém, contra a liberdade de outrem, contra a suprema liberdade de crer em Deus e de adorá-lo e contra a dignidade e a honra do próximo. “Social é todo o pecado contra o bem comum e contra as suas exigências, em toda a ampla esfera dos direitos e dos deveres dos cidadãos” (p. 77). O homem é aberto ao infinito, ou seja, não pode ser instrumentalizado para projetos econômicos, sociais e políticos impostos por qualquer autoridade, mesmo em nome de pretensos progressos da comunidade civil ou de outras pessoas.
A vida corporal não pode ser desprezada, mas o homem “deve, pelo contrário, considerar o seu corpo como bom e digno de respeito, pois foi criado por Deus e há de ressuscitar no último dia” (Gaudium et spes, 14). Quando o homem reflete sobre o próprio destino, ele se descobre superior ao mundo material, pois tem a dignidade única de ser interlocutor de Deus, sob cujo olhar decide a sua própria sorte. Deus, “porque com a sua inteligência e a sua vontade se eleva acima de toda a criação e de si mesmo, torna-se independente das criaturas, é livre perante todas as coisas criadas e tende à verdade e ao bem absolutos” (p. 82).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIAS
CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et spes. São Paulo: Paulus, 1997.
Pontifício Conselho “Justiça e Paz”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.