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Levanta-te e come!

Publicado em 10 de agosto de 2021 - 14:00:22

O caminho pelo deserto foi uma experiência fundamental para constituir a identidade do Povo de Deus. Quando estava no Egito, o povo vivia na condição de escravidão e clamava pela libertação, Deus ouviu as preces e enviou Moises. Antes de entrar na Terra Prometida, o deserto foi o lugar da provação e da experiência da providência de Deus. A fome, a sede e a idolatria foram desafios que o povo precisou enfrentar e cada um deles foi importante para forjar e fortalecer a consciência de povo da Aliança. O caminho pelo deserto será um memorial, que sempre vai recordar a dependência do povo em relação a Deus.

Em sua fuga, o profeta Elias entrou pelo deserto e caminhou por um dia até chegar à sombra de uma árvore, onde ele desejou a morte. O profeta estava cansado e prestes a desistir, pois tudo à sua volta parecia difícil demais. Elias estava sem esperança e sem forças para continuar. Deus enviou um anjo para alimentar o profeta e restaurar suas forças para que ele pudesse continuar a caminhar. Por duas vezes, o anjo do Senhor repetiu a mesma ordem, “Levanta-te e come!” (1Rs 19). Era necessário alimentar-se e depois retomar o caminho pelo deserto, para refazer a experiência da dependência de Deus.

Jesus também entrou pelo deserto, para resgatar o memorial da experiência do Povo de Deus. Ele enfrentou as provocações do diabo, na forma da fome, do orgulho e da idolatria. Em cada um dos desafios, respondeu com a Palavra de Deus, afirmando que a sua condição de Filho não dependia dos “favores de Deus”. Jesus se identificou como Filho de Deus e n’Ele nós também somos filhos, pelo batismo. Mas essa condição não é apenas um título, ela vem carregada de uma responsabilidade. Assim como a entrada na Terra Prometida exigiu o caminho e a conquista, somos filhos de Deus para testemunhar a fé em Cristo.

O testemunho da fé, porém, não pode ser confundido com os ritos que celebramos. A Eucaristia é o ápice de toda a nossa vida de fé, nela celebramos o mistério pascal de Cristo e somos alimentados com o pão da Palavra e com o pão do Corpo e Sangue de Cristo. A celebração é o tempo de descanso, ao mesmo tempo que confirma nossa identidade e nos reanima para retomar o caminho. Ela é sombra que refaz as nossas forças, lugar da partilha e da experiência de comunidade, sinal do banquete definitivo, preparado pelo próprio Cristo para os discípulos. A Eucaristia nos prepara para os desafios da vida cotidiana.

Fugir ou desistir nunca é a resposta, mas hoje vemos muitas pessoas cansadas e desanimadas. A atitude do profeta Elias nos coloca diante desses fatos e pede de nós um testemunho, precisamos partilhar o pão e também precisamos testemunhar nossa fé. A fome, o frio e as outras necessidades, sobretudo dos mais pobres, são ocasiões para exercitar a caridade. De outro lado, cada vez mais é preciso acolher as pessoas, escutar as dores, as angústias e diminuir a solidão. Reanimado pelo pão, Elias continuou seu caminho. Reanimados pela Eucaristia, vamos em frente com o serviço da caridade e da acolhida. 

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

 

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