São Francisco de Sales (século XVII), em passagem do seu clássico livro “Filoteia - Introdução à Vida Devota”, apresenta o seguinte pensamento: “Na criação, Deus Criador mandou às plantas que cada uma produzisse fruto conforme sua espécie. Do mesmo modo, ele ordenou aos cristãos, plantas vivas de sua Igreja, que produzissem frutos de devoção cada qual de acordo com sua categoria, estado e vocação”.
O Santo “padroeiro dos jornalistas” nos provoca a olharmos para as nossas próprias vidas e às nossas atitudes cotidianas perante as coisas, as pessoas e o próprio Deus. Sendo mais direto, ele convida a mim e a você a refletirmos em particular sobre a vocação que temos (ou deveríamos ter!) dentro de nossa Igreja.
Vocação (do latim vocare, que significa chamar, escolher) antes de tudo é um chamado que Deus realiza individualmente, seja para a vida religiosa (sacerdotes, freiras, irmãos e irmãs), seja para a vida laical. Interessa-nos esta última, pois é importante pararmos para analisar quais têm sido as respostas que nós, leigos, damos à convocação de Deus, ou que caminhos temos (ou não) tomado rumo à santidade a que somos convidados a viver com toda ênfase.
A propósito da santidade, o Papa Emérito Bento XVI ensina que ela “se mede pela estatura que Cristo alcança em nós, pelo grau como, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida segundo a Dele”. Eis um farol a nos guiar!
Os conturbados e não menos polarizados dias em que vivemos exigem, por primeiro, resposta pronta ao chamado de Deus com um engajamento decidido e perseverante no seio da Igreja, que tanto tem por fazer, relembrando que “A messe é grande, mas os operários são poucos” (Mt 9,37). Deus não nos quer à toa, mas sim colaboradores da construção do seu Reino.
Porém, atentemos ao seguinte: esse engajamento não pode se confundir com militância político-partidária e nem com mero afinamento ideológico, pena de excluirmos quem pense diferentemente de nós, pois de nada valerá nos pormos a serviço do Evangelho –esse é o verdadeiro serviço!— se desprezarmos a busca pela santidade, individual e para o meu próximo. E pouco frutífera, quando não estéril, se tornará nosso fazer se somente nos guiarmos pela ação de homens, por mais “capacitados” que sejam, e não pela Graça de Deus através do agir humano.
A Igreja nos proporciona um grande leque de opções de serviço. Podemos servir a Deus colaborando nas paróquias, em trabalhos caritativos, nos diversos movimentos eclesiais, nas Ordens religiosas, ensinando, intercedendo pela oração, etc. E com São Paulo lembramos que “Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos” (ICor 12,4-7).
O leitor, afinal, poderá se questionar: Deus me chama para quê? Não existe resposta pronta e nem uniforme, mas ela seguramente será descoberta num percurso de escuta e de discernimento, num caminho de verdadeira intimidade com o Senhor, caminho esse que não se deve trilhar sozinho, mas com a ajuda de irmãos e irmãs que sejam dignas e fiéis testemunhas do Evangelho. E sempre lembrando que os dons com que Deus nos agracia de nada servirão se os enterrarmos... (cf. Mt 25,14-30).
Mas uma afirmação é certa: a minha e a sua vocação nasceram no ato do Batismo, momento em que assumimos o compromisso com a santidade. Então, como “A messe é grande, mas os operários são poucos” (Mt 9,37)”, mãos à obra!