A Doutrina Social da Igreja na América Latina tem seus inícios no Concílio Vaticano II, mas foi na II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (CELAM), em Medellín (Colômbia), que ela surgiu com muita força, sendo criados posteriormente institutos e organismos eclesiais, como a Caritas, Comissões de Justiça e Paz, Escolas de Fé e Política, Centros de Ação Social, Pastorais Sociais e Semanas Sociais. Após Medellín, formaram-se dois grupos fortes. Um reformista para superar a pobreza através de políticas públicas e o outro revolucionário para superar a pobreza por meio do enfrentamento do sistema capitalista.
Com Medellín perguntou-se a toda Igreja sobre o serviço que se pode prestar ao povo pobre num continente de opressão e libertação e sobre o comprometimento num contexto de América Latina. Medellín influenciou na Doutrina Social da Igreja com o pensamento social elaborado a partir dos pobres e das periferias. Medellín fez com que a Igreja tomasse consciência da dimensão estrutural de injustiça vivida na América Latina. “A Igreja latino-americana compreende e vive o compromisso com o Evangelho na luta pela justiça” (Élio Estanislau Gasda in SORGE, p.167).
Os Bispos latino-americanos afirmam categoricamente que não “se ama verdadeiramente a Deus sem comprometer-se com a justiça social e a promoção de grupos em situação de opressão e violência. Toda a ação da Igreja deve ser libertadora. O conceito possui dois elementos inseparáveis: a libertação de toda servidão do pecado pessoal e social e a libertação para o desenvolvimento integral. Ambas se dão na história. A condição fundamental da autêntica libertação é a superação de todas as escravidões impostas pelos ídolos (riqueza, poder, prazer) (pp.167-168).
Com a III CELAM, em Puebla (México), foram apontados “elementos para um discernimento político diante do contexto das ditaduras, da supressão da democracia, da doutrina de segurança nacional, da deterioração do sistema política e das instituições, do regime de violência. Os sistemas e as ideologias pedem uma reflexão orientada pelo Evangelho e pela Doutrina Social. A dimensão política é tão relevante que é impossível desconsiderá-la na evangelização” (p.168). A Doutrina Social da Igreja orienta para que se mantenha a liberdade com relação aos sistemas econômicos e às ideologias políticas.
A IV CELAM aconteceu em Santo Domingo (República Dominicana). “O pedido de perdão feito pela Igreja aos povos indígenas e aos povos africanos foi um marco desta Conferência” (p.170). No seu documento final, a Doutrina Social da Igreja ocupa um lugar privilegiado como parte necessária da evangelização, dando ênfase na formação nesta doutrina para que o laicato assuma seu protagonismo na sociedade. A democracia na América Latina deteriorou-se: “corrupção, distanciamento dos partidos com relação às necessidades da comunidade; vazios programáticos, clientelismo e populismo” (p.171).
A V CELAM foi no Brasil, em Aparecida. Seu documento final diz que a Igreja precisa ser samaritana, advogada da justiça e defensora dos pobres. “A Igreja tem uma responsabilidade em formar cristãos e sensibiliza-los a respeito destas grandes questões de justiça social” (p.174). A realidade vivida pelos pobres exige que a Igreja seja solidária e misericordiosa, enfrentando os efeitos imediatos da exclusão, mas, ao mesmo tempo, exige compromisso na transformação das estruturas injustas do sistema para construir um novo mundo baseado no respeito mútuo e na harmonia com a criação.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas, 2018.