Encantadores, mágicos ou ilusionistas são pessoas que sempre usaram truques para divertir ou enganar plateias. Esses artistas descobriram que poderiam usar seus truques para ganhar dinheiro e muitos deles se tornaram famosos, alcançando grande renome. Os mágicos sempre ocuparam um lugar importante no imaginário das pessoas, provocando alegria e despertando a curiosidade sobre como era possível, por exemplo, tirar um coelho da cartola ou fazer aparecer um ramo de flores com as mãos aparentemente vazias. Como o mágico faz as suas mágicas?
Com tempo, deixamos de acreditar em mágica e a fantasia vai sendo substituída pela razão e pela lógica. Sabemos que existe uma explicação e queremos encontrar uma resposta, para satisfazer a curiosidade. Encontrar respostas passa a ser uma árdua tarefa, mas as respostas fáceis nem sempre são as verdadeiras, às vezes, é necessário muito esforço e empenho. Já que não existe mágica, tudo tem uma explicação e quanto mais cresce essa certeza, tanto mais queremos explicar tudo à nossa volta. Será que isso se aplica também nas coisas da fé?
A teologia é o estudo das coisas relacionadas à fé, a teologia bíblica se ocupa particularmente do aprofundamento na compreensão da Sagrada Escritura. Antigo e Novo Testamento são as duas partes da Escritura que narram a experiência de homens e mulheres com Deus. Experiências de fé, onde eles encontraram respostas a partir do encontro com Deus. Algumas das narrativas apresentam acontecimentos de difícil compreensão, desafiando a razão, mas não a fé. Os milagres são narrativas que fogem ao comum ou ao natural, mas são plenamente aceitos pela fé.
Jesus realizou diversos milagres que envolveram tanto pessoas como coisas. Ele curou paralíticos, cegos e surdos, de outra parte acalmou o mar, transformou água em vinho, multiplicou pães e peixes. Seus atos não foram uma forma de entretenimento ou distração, tudo estava sempre relacionado à sua missão e ao Reino de Deus. Jesus não usou dos milagres para atrair a multidão, ao contrário, quis saber se entendiam seus gestos (Mt 16,13-19); e quando percebeu uma distorção e a tentativa de fazê-lo rei, buscou apoiar-se na oração e no silêncio (Jo 6,1-15).
A multiplicação dos pães não foi apresentação de um mágico, foi um milagre. Jesus tomou sobre si a responsabilidade de alimentar aquelas pessoas, uma clara referência ao banquete e a fartura do Reino. Todas as suas ações estavam impregnadas de agir salvífico, porque Ele é o Salvador e nenhum projeto político pode equiparar-se a isso. Alguns tentam explicar esse milagre reduzindo tudo a gestos de partilha entre as pessoas que lá estavam, como se cada um tivesse um pedaço de pão que foi divido. Mas qual é a dificuldade em aceitar esse ou os outros milagres de Jesus?
A teologia bíblica não tem a tarefa de desvendar os mistérios, mas, ao contrário, ela existe para ajudar a fomentar a fé dos cristãos. Curiosidades, crendices, razões humanas e sociais também não servem para sustentar a fé. Em Jesus, estamos diante do Filho de Deus que veio para nossa salvação, sua palavra é a realização da vontade do Pai e um convite à conversão. Cabe a nós oferecer aquilo que temos, a água ou os pães, e cabe a Ele realizar os milagres. Diante daquilo que não compreendemos, basta a fé, sem a confusão das explicações especulativas.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba