A Doutrina Social da Igreja tratou muitas vezes o tema da família, sobretudo nos últimos anos “após a gravíssima crise que atingiu esta instituição fundamental da sociedade humana” (SORGE, 2018, p.95). O ensinamento mais atualizado é a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco sobre o amor na família, ou seja, Amoris laetitia, baseada nas conclusões de dois sínodos mundiais dos bispos sobre os problemas atuais da família. A cultura moderna revalorizou o indivíduo e levou a importantes efeitos positivos, como melhoramentos sociais nos direitos humanos e evolução nas relações interpessoais.
O processo de privatização, o processo de secularização e a perda do sentido sagrado da vida influíram “negativamente sobre a família muito mais do que sobre outros setores da vida social” (p.96). A “prevalência do individualismo eclipsou a importância social e civil da família, confinando o matrimônio no âmbito do privado e abrindo o caminho à proliferação de novas relações de convivência, baseadas na liberdade individual dos parceiros, sem que eles devam prestar contas a ninguém de sua escolha e sem nenhuma responsabilidade para com a sociedade” (p.96).
Foi difundida uma cultura que considera a forma natural da família “no matrimônio entre um homem e uma mulher apenas como um dos diversos modelos sociológicos possíveis, uma das muitas formas de ‘convivência estável entre pessoas’” (p.97). Em alguns países se deseja que “os casais de fato homossexuais e heterossexuais fossem considerados e tratados como tantas formas legítimas de família, em tudo e por tudo equiparadas àquela fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher” (p.97). Diante dessa situação, muitas famílias se encontram desorientadas.
Temos outras graves causas que prejudicam a família, como a difusão da pornografia e da comercialização do corpo, a diminuição demográfica, o enfraquecimento da fé e da prática religiosa, a falta de habitação digna, os filhos sempre mais numerosos que nascem fora do matrimônio e vivem ou com um só dos pais ou num contexto familiar ampliado e reconstruído, as migrações forçadas, as famílias com pessoas inabilitadas ou incapazes, a presença dos idosos, a pobreza e, enfim, o deságio da ideologia do gênero, que nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher.
O Papa Francisco insiste que somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las. A mensagem da Igreja não pode ser diferente da atitude de Jesus, que, por um lado, propunha um ideal exigente do matrimônio e da família, por outro não escondia sua proximidade compassiva com as pessoas frágeis. Para a Bíblia, a família é o lugar da transmissão da fé, uma escola de vida onde os pais aprendem que os filhos não são propriedade sua, e os filhos aprendem da sua família não só o bem, mas também a enfrentar a dor, o mal e a violência que dilaceram a vida da humanidade.
A família, isto é, a união entre o homem e a mulher fundada no matrimônio, possui – à imagem de Deus – uma tríplice característica: está fundada no amor, é indissolúvel e é fecunda. Ela é a primeira escola de valores sociais e de solidariedade. Não é escola teórica, mas escola de vida, onde se aprendem as relações interpessoais, o respeito pelas pessoas e o sentido do bem comum. Para resolver a tensão entre consciência subjetiva e objetividade da lei diante dos problemas das famílias, o Papa Francisco insiste que os pastores recorram ao discernimento e ao diálogo.
Pe. Antônio Carlos D’Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
SORGE, Bartolomeo. Breve Curso de Doutrina Social. São Paulo: Paulinas, 2018.