Há quase dois anos estamos vivendo um período de pandemia, que vem mostrando muitas fragilidades e inconsistências sociais. No princípio, tínhamos poucas informações a respeito do novo vírus e da sua forma de ação, isso gerou muito medo e incertezas. Foi preciso parar, fechar, mudar hábitos e adquirir novos costumes para defender e salvar vidas. O trabalho e o esforço de médicos e enfermeiros foi fundamental para estabelecer os procedimentos e os medicamentos mais adequados, a cura se tornou uma possibilidade. Mas será possível chegar à imunidade?
Outra parte de pessoas comprometidas se dedicou em procurar por uma vacina. A ciência buscou caminhos e encontrou. Novas vacinas foram apresentadas e, apesar do pouco tempo, foram consideradas seguras e eficazes. O passo seguinte foi a produção e distribuição em massa e, mais uma vez, a engenhosidade e a capacidade humana foram surpreendentes em dar uma resposta. Mas será que todos terão acesso igual a esses recursos? Os custos dessa tecnologia serão reais e a eficácia garantida?
Nesse tempo também não faltaram notícias falsas e distorcidas. Nas redes sociais circularam e ainda circulam todo tipo de vídeos, alguns engraçados e outros nem tanto. O problema é que, em meio a tudo isso, as pessoas passaram a discutir não apenas sobre a eficácia das vacinas, mas também se iriam ou não receber e, mais recentemente, qual vacina queriam receber. Em todo esse contexto está em jogo a liberdade dos indivíduos, a segurança coletiva e a capacidade da ciência em responder aos desafios atuais. Enquanto pessoas de fé, como deveríamos agir?
Certa vez o astrônomo Galileu Galilei disse: “À ciência cabe dizer como vai o céu, e à religião como se vai ao céu.” A frase de Galileu expressa bem a separação entre uma e outra realidade e ao mesmo tempo mostra como ambas tocam a existência humana. Pela via religiosa sabemos que tudo à nossa volta é passageiro e que só em Deus está nossa verdadeira segurança. De outra parte, é cada vez mais explicita a necessidade da ciência para manutenção da vida e do bem-estar humano. A fé e a ciência caminham juntas.
Sendo a vida um precioso dom de Deus, é preciso fazer todo esforço para cuidar dela, usando os recursos que vêm pela capacidade humana. A inteligência também é dom de Deus. Por isso, o salmista clama: “Ensina-me o bom senso e o saber” (Sl 119,66). Enquanto a fé sustenta nossa esperança e anima nosso caminho, também precisamos lançar mão de recursos a nossa disposição para cuidar do precioso dom que é a vida. Esse cuidado, não pode ser negado a ninguém pois cada pessoa conta e importa e a todos devem ser oferecidos os recursos para uma vida plena.