Uma aluna me disse: "Padre, eu nem sabia que existia uma Carta de São Judas. Eu a li e não entendi nada". De fato, a Carta de São Judas é o escrito mais desconhecido e estranho do Novo testamento. Ela provavelmente foi escrita por Judas, o "irmão do Senhor" que era primo de Jesus. Muitos confundem esse Judas com São Judas Tadeu. Os "irmãos do Senhor" não creram em Jesus no início (Jo 7,5); mas depois da ressurreição, eles se tornaram seus seguidores (At 1,14). É provável que Judas, por não ter acreditado no início, não se sentia digno de "assinar" como "irmão do Senhor. Assim refere-se a si mesmo como um simples servo ou o "irmão de Tiago".
A carta foi destinada às comunidades dos últimos anos do primeiro século e se baseia principalmente em textos tirados do Antigo Testamento (v. 5-16). Este fato, e a menção de algumas tradições contidas nos escritos apócrifos do Judaísmo, que são escritos extrabíblicos, indicam que o autor conhece seus leitores e sugerem que os destinatários da Carta eram, em grande parte, judeus convertidos ao Cristo Mestre. No entanto, havia também entre eles pessoas convertidas do paganismo que, por sua própria origem, estavam mais expostas ao estilo de vida do Império Romano e ao ensinamento dos falsos mestres.
Judas, se opõe a erros de fé que não são totalmente claros hoje. As comunidades são advertidas contra falsos mestres que corromperam a fé em Jesus Cristo e perverteram os costumes cristãos, e são exortadas a manter-se firmes no ensinamento recebido dos apóstolos. A dureza das ameaças explica-se pela gravidade do perigo e pelo estilo literário deste escrito, que sem dúvida inspirou a segunda Carta de Pedro.
A estrutura da carta é simples:
1) Saudação 1-4
2) Relembrar exemplos passados 5-7
3) Palavra contra falsos mestres 8-16
4) Exortação às comunidades 17-23
5) Conclusão 24-25
A carta é pequena e possui um único capítulo com 25 versículos. Fala-se de "ímpios", que são pessoas que não romperam completamente com a comunidade, mas por causa de seu comportamento e linguagem convincente, são perigosos à caminhada da fé (v. 4), que murmuram e se rebaixam "lisonjeando as pessoas para obter lucro" (v. 16) e negam a Deus como "o único soberano e nosso Senhor Jesus Cristo" (v. 4). São acusados de rejeitar a autoridade e blasfemar "dos poderes superiores" (v. 8); causando divisões e de não ter o Espírito de Deus (v. 19).
Judas utiliza de palavras, figuras e cenas do AT: Sodoma e Gomorra (v. 7; Gn 19.1-24); o arcanjo Miguel (v. 9; Dn 10,13-21; 12.1); Caim, Balaão e Coré (v. 11; cf. Gn 4: 3-8; Nm 22: 1-35; 16: 1-35), e “Enoque, sétimo desde Adão” (v. 14; Gn 5,21-24). Também alude a algumas tradições judaicas extrabíblicas (v. 6, 9, 14-15), como, por exemplo, Miguel disputando o corpo de Moisés com Satanás (v. 9).