Inicio esta série de artigos, em linguagem popular, sobre a Doutrina Social da Igreja baseando-me principalmente em dois livros essenciais para a compreensão desse tema. O primeiro é: Breve Curso de Doutrina Social, do jesuíta e teólogo italiano Pe. Bartolomeo Sorge (SORGE), traduzido pela Paulinas em 2018. O segundo é: Compêndio da Doutrina Social da Igreja, do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, traduzido pela CNBB e publicado pela Paulinas em 2005. A Doutrina Social da Igreja faz parte integrante do ministério da evangelização de nossa Igreja e ela tem em si mesma o valor de instrumento de evangelização.
A Doutrina Social da Igreja tem a finalidade de comunicar “em termos racionais, compreensíveis e adotáveis por todos” (SORGE, 2018, p.11) a luz que a fé cristã lança sobre o estudo do ser humano. A fé não pode ser obstáculo à razão, mas a purifica e a ajuda a entender melhor o ser humano e todos os seus problemas, esforçando-se para aplicar em casos concretos seus princípios, critérios e orientações. A Igreja não impõe seu ensinamento social às pessoas, mas oferece seu conteúdo, sabendo que muitas vezes ele não será aceito, compreendido e até será rejeitado por muitos. Mas ela nunca se omite em apresentar sua visão, à luz do Evangelho.
A nossa Igreja não entra em questões técnicas e nem propõe sistemas ou modelos de organizações sociais. A origem da Doutrina Social da Igreja tem seu início no final do século XIX com o Papa Leão XIII, em sua encíclica Rerum Novarum (1891), como resposta às questões sociais que se seguiram à Revolução Industrial (1889): luta de classes entre proletários e patrões. A encíclica condena o conflito ideológico entre socialismo e liberalismo e propõe a ideologia católica como solução baseada na Revelação cristã e no direito natural. A questão social vai se desenvolvendo e se transforma em confronto filosófico e ideológico sobre a luta de classe.
Os últimos Papas, com orientações claras e seguras, apresentam os princípios religiosos e éticos em contraposição ao liberalismo e ao socialismo, reconhecendo a colaboração dos leigos na aplicação das ciências sociais e econômicas para o equilíbrio da humanidade. A partir do Papa João XXIII, inicia-se a necessidade do diálogo entre o Norte rico e o Sul pobre do nosso mundo, com a construção de uma nova ordem mundial, partindo dos “sinais dos tempos” para interpretá-los à luz do Evangelho e do ensinamento da Igreja, com a colaboração dos homens de boa vontade, independentemente de terem ou não prática religiosa ou de serem católicos.
Com os Papas São João Paulo II e Bento XVI as questões sociais se tornam qualidade de vida, onde os desequilíbrios e os problemas superam os limites geográficos e materiais do mundo e salientam a vida humana em si mesma, com valores e direitos fundamentais. Estes Papas se dirigem a todos e o ensinamento social da Igreja pode ser compartilhado por crentes e não crentes, tanto no Oriente quanto no Ocidente, seja em países desenvolvidos ou em via de desenvolvimento. O Papa Bento XVI, em sua encíclica Caritas in Veritate (2009), elabora um novo modelo de desenvolvimento mundial para que os povos aprendam a viver unidos.
A Igreja com sua Doutrina Social se compromete a explicitar a todos a dignidade da pessoa humana, a solidariedade, a subsidiariedade e a qualidade da vida, “pilares sobre os quais se fundamentam a convivência civil e a própria democracia” (SORGE, 2018, p.18). O Papa Francisco apresenta o valor da Doutrina Social da Igreja na linguagem concreta da vida que todos entendem, mostrando ao mundo um rosto renovado de uma Igreja onde ninguém deve impor ao outro sua cultura, moral ou fé religiosa, mas é preciso fundar um novo humanismo através do personalismo, da solidariedade e do bem comum.