Jesus encontra a mulher Samaritana (cf. Jo 4,5-42) junto a um poço que era um lugar tradicionalmente concebido como lugar de reencontro e de conversação (cf. Gn 24,10-27; 29,1-14).
Jesus apresenta a essa mulher uma necessidade muito concreta, ou seja: a sede, fazendo com que ela se sinta útil, procurando, portanto, reacender nela o desejo e o gosto de ajudar e servir. Então,vai se desdobrando um diálogo que, partindo da superficialidade, se torna, pouco a pouco, cada vez mais profundo.
De início, Jesus tenta provocar um encontro, entrando pela porta do cotidiano, ou seja, o buscar água, com pouquíssimos resultados. Depois, tenta abrir a porta da vida familiar, perguntando pelo esposo, mas também aqui os resultados não são tantos. Por último, é a Samaritana quem abre o discurso sobre sua religião, através do lugar da adoração, colocando, então, o encontro em um plano mais profundo e envolvente.
Um dos temas da discussão que se dá no encontro entre Jesus e a mulher Samaritana é o tema da água. No Antigo Testamento, a água é considerada como símbolo da ação do Espírito de Deus nas pessoas: “... meu povo cometeu dois crimes: Eles me abandonaram, a fonte de água viva, para cavar para si cisternas” (Jr 2,13).
Na narração do encontro de Jesus com a Samaritana, a água é vista como imagem da vida nova trazida pela pessoa de Jesus: «... mas quem beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede» (Jo 4,14). Há ainda uma particularidade para a qual devemos voltar o olhar: Jesus declara a sua sede, mas não toma a água. De fato, a sua sede era simbólica e tinha a ver com a sua missão: a sede de realizar a vontade do Pai: «Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar sua obra» (cf. Jo 4,34). Na hora de sua morte, Jesus diz: «Tenho sede» (Jo 19,28), declarando sua sede pela última vez, antes de exclamar: «Tudo está consumado! E, inclinando a cabeça, entregou o espírito» (Jo 19,30), levando, desse modo, a cumprimento a sua missão de Redentor e Salvador do ser humano.
Outra imagem muito significativa no encontro entre Jesus e a Mulher samaritana, que muitas vezes não é observada, é a do esposo: «Vai chamar teu esposo e retorna aqui» (Jo 4,16), pede-lhe Jesus. Para compreender o valor simbólico dessa chamada pelo esposo, é necessário ter presente uma ideia muito difusa no tempo de Jesus acerca dos Samaritanos.
Com uma linguagem figurada, se afirmava que aquele povo, no passado, tinha tido cinco maridos (como a Samaritana) para indicar, assim, os ídolos ligados aos cinco povos que foram levados pelo rei da Assíria para a Samaria (cf. 2Re 17,29-31). Tratando-se de ídolos, os Samaritanos eram considerados como nada mais do que um aglomerado de povos idólatras, substancialmente longes da união esponsal com o verdadeiro Deus.
Jesus diz à Samaritana que também o sexto homem, com quem convive, não é um esposo (cf. Jo 4,18). Assim, Jesus procura dizer que nem mesmo o sexto homem podia realizar o desejo mais profundo daquele povo: a união com Deus, como um esposo que se une à sua esposa (cf. Is 62,5; 54,5). O verdadeiro esposo, o Sétimo, é Jesus, assim como tinha sido prometido pelo profeta Oséias: «Eu te desposarei a mim para sempre, eu te desposarei na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade: e conhecerás a Iahweh» (Os 2,21-22).