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Espiritualidade e ecologia

Publicado em 7 de julho de 2020 - 10:52:48

Nos últimos tempos, sobretudo depois da Carta Encíclica Laudato si’, promulgada pelo Papa Francisco, em 2015, tem-se falado muito da relação entre espiritualidade e ecologia, relação esta que muitas vezes não deixa de causar dificuldades em muitos cristãos, pelo fato de termos assumido o hábito de pensar, desde o início da Modernidade, que espiritualidade é uma coisa predominantemente pertencente a nossa subjetividade e ao nosso sentimento. Assim, costumamos considerar espiritual somente as coisas que pertencem exclusivamente ao culto religioso, de modo que as coisas que não estão relacionadas diretamente com o culto (como o mundo do trabalho, as questões sociais e ecológicas, dentre outras) são difíceis de serem acolhidas na nossa vida espiritual.

Todavia, a espiritualidade bíblica é uma espiritualidade que abarca o ser humano na globalidade do seu ser, pois considera a pessoa humana, que foi feita à imagem de Deus, um ser de relação: relação com Deus, relação com o outro e relação com as coisas criadas. Aquilo que caracterizava a vida no Paraíso era o bom relacionamento que tínhamos com Deus, com o próximo e com a criação em geral. De fato, ao nos criar, Deus escolheu um Jardim para que fosse nossa casa e, dentro desse jardim, nos deu uma função: de cuidar, de ser jardineiro do Éden, criando-nos em íntima relação com o ambiente em que vivemos, como sugere a narração da criação: No dia em que o Senhor Deus fez a terra e o céu, ainda não havia na terra nenhum arbusto do campo. Nenhuma erva do campo havia brotado, pois o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra e não havia ser humano que cultivasse o solo e fizesse subir da terra a água para irrigar o solo (Gn 2,4b-7).

A narração da criação de Gn 2, completando aquela que se encontra em Gn 1, apresenta, portanto, a razão da vida humana em profunda relação com a vida da Terra, como se dissesse que Terra foi feita para o homem e o homem foi feito para a terra. Sendo, portanto, no cuidado para com a terra que homem encontra o sentido dos seus dias. Essa narração, feita pelos teólogos javistas, expressa entre o homem e a terra uma relação de comunhão.

A relação de comunhão do homem com a Terra, seu ambiente, é caracterizada pela dinâmica da reciprocidade, onde a Terra fornece ao homem as condições necessárias para sua vida e o homem cuida da terra para que essas condições sejam permanentemente possíveis. Sem esse cuidado as condições de vida na terra perdem em qualidade.

Quando cria e abençoa o ser humano, Deus também define a sua função na Terra: Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e a submetam. Dominem sobre os peixes de mar, as aves do céu e todos os seres que rastejam sobre a terra (Gn 1,28). De acordo com a terminologia bíblica, esse submeter e dominar estão relacionados com a maneira como Deus pastoreia e querem dizer que o ser humano é colocado em relação ao restante da criação como pastor. Ele é pastor da Criação e, como pastor, sua essência é cuidar. Quando cuida o homem ama e quando ama ele cuida. Aqui está o sentido bíblico de uma espiritualidade ecológica.

Pe. Antonio César Maciel Mota
Pároco da Paróquia São João Batista em Rio Claro
Docente do Curso Diocesano de Teologia
 

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