Como vimos no artigo do mês anterior, Jesus, após tomar a firme decisão de ir para Jerusalém, começa a instruir os discípulos para esse caminho. Lucas trata o caminho como local da busca pela identidade cristã. É necessário conhecer os segredos do Reino, comprometer-se com ele, assumi-lo para a vida e anunciá-lo a todos. Essa é a missão que os discípulos deverão assumir, após a Páscoa do Senhor.
Os discípulos devem assumir uma vida centrada na comunidade cristã e praticar os valores da confiança, coragem, liberdade, pobreza e a vigilância, sobretudo nos tempos em que as perseguições se acentuarem, para que, não desanimando, continuem dando testemunho, sempre sustentados pela força do Espírito Santo. Mesmo diante das situações de perseguição, os discípulos devem caminhar livres de todo tipo de medo, pois encontram em Deus a verdadeira segurança, abandonando, assim, as falsas seguranças.
Discípulos são aqueles que lançam o olhar para o futuro, para o ponto de chegada de sua caminhada. Não se permitem desanimar pelas adversidades do tempo presente, mas esperam sempre no Senhor que os chama a participar de um projeto salvífico. Neste sentido, a ideia de vigilância é constantemente apresentada no Evangelho, para mostrar que o testemunho do fiel se torna responsabilidade na vida pessoal e comunitária de cada batizado.
No caminho a Jerusalém, Jesus também nos dá algumas características de como também nós devemos agir na comunidade cristã e no mundo. O discípulo é aquele que tem coragem e liberdade (cf. Lc 12, 1-12), sobretudo em tempo de perseguição. Sobre tais características, afirma-nos Rinaldo Fabris: “Jesus não garante aos discípulos [...] a tranquilidade ou imunidade perante a violência repressiva, mas indica-lhes a verdadeira raiz da liberdade: a vitória sobre o medo da morte”, pois ela não pode determinar a vida e o futuro do discípulo que espera e confia no ato salvífico de Deus.
O desapego dos bens materiais é condição para aquele que busca o sentido pleno da própria vida (cf. Lc12,13-21). Perante isto, nos é afirmado: “Um projeto de vida fundamentado na acumulação de bens não tem solidez, porque a fonte da vida não está nos bens”, mas sim na providência de Deus. Deste modo, Lucas exorta a sua comunidade, afirmando que a vida vale muito mais do que as coisas que a sustentam. Por isto, a proposta de Jesus para nós é sempre esta: “Procurem primeiro as coisas do Reino (de Deus) (Lc 12, 31). Tal busca é, antes de tudo, marcada por uma adesão de fé que gera, por sua vez, uma mudança de vida.
Por fim, a última característica que Lucas nos apresenta diz respeito à vigilância. (cf. Lc 12, 35-48). Nessa parte, o Evangelista destaca que a vida dos seguidores de Jesus deve estar voltada para o futuro que anseia pela sua salvação. Rinaldo Fabris nos diz que “O futuro salvífico não é uma utopia anônima. O futuro do discípulo crente tem um nome e um rosto preciso: é o Senhor Jesus”. Assim, o tempo da vigilância se configura como tempo de espera, mesmo que este tempo seja marcado por muitos e muitos anos. Desta forma, a Igreja se configura como a Comunidade de discípulos que, aberta à vigilância e ao futuro, espera e confia sempre no Senhor. Portanto, irmãos, que a Palavra de Deus seja sempre, para nós, busca de nos assemelharmos ao nosso Deus, que deseja, em todos os momentos da nossa vida, nos salvar.
Pe. Willian Bento
Pároco da Pároquia Menino Jesus de Praga - Piracicaba