Amados irmãos em Cristo, graça e paz! Estamos em agosto, mês vocacional e em nossa reflexão acerca do Evangelho de São Lucas, encontramo-nos no capítulo nono, um dos capítulos mais árduos da vida e missão de Jesus e dos discípulos.
Neste capítulo, Jesus encerra a sua missão na região da Galiléia e toma a decisão de ir para Jerusalém, a cidade de sua Paixão, Morte e Ressurreição. Neste mesmo capítulo, Jesus dirige sua atenção aos que estão mais próximos e que deverão continuar a sua missão, ou seja, ao grupo dos doze. A eles, durante o caminho, Jesus revela os “mistérios” do Reino de Deus, sua própria identidade e sua missão de salvação universal.
Os doze, agora, se deparam com uma importante missão: são enviados por Jesus para “pregar o Reino de Deus e curar” (Lc 9,2). Ao regressarem, deparam-se com uma grande multidão que procurava ver Jesus. Por estarem num lugar deserto, os apóstolos pedem a Jesus que despeça a multidão, para que procurem alimento e alojamento (cf. Lc 9,11-12). Todavia, Jesus os faz um convite desafiador: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). A partir de cinco pães e dois peixes, os discípulos recolhem “doze cestos de pedaços que sobraram” (Lc 9, 17).
Após a missão dos doze e o relato da multiplicação dos pães, Jesus lança uma pergunta fundamental aos apóstolos: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Lc 9,20). Pedro, imediatamente, toma a palavra e responde: “O Messias de Deus” (Lc 9,20). A essa resposta, Jesus proíbe severamente que eles contassem sobre isso a alguém (cf. Lc 9,21). Muitos interpretaram tal frase como o “Segredo Messiânico” de Jesus, porém, com os recentes estudos, é cada vez mais consensual que tal proibição partiu por conta da concepção de “Messias” por parte dos judeus, inclusive dos doze.
Para grande parte dos judeus, a concepção de um “Messias guerreiro” era quase unânime. Esperava-se um Messias que haveria de libertar Israel da opressão do Império Romano. Porém, Jesus apresenta-lhes tudo que haveria de acontecer com Ele: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Lc 9,21).
Após tal episódio, Jesus leva, com ele, Pedro, João e Tiago para a montanha. Lá se transfigura. Mais uma oportunidade para Jesus mostrar a sua real missão, no mundo. Mas, mesmo assim, não foram capazes de compreender. Pedro, lembrando-se das palavras de sofrimento e morte proclamadas por Jesus, não quer sair do monte: “Mestre, é bom ficarmos aqui” (Lc 9,33). “Na montanha, Jesus é proclamado por Deus “Filho” escolhido e autorizado para uma tarefa exclusiva”, como nos afirma o exegeta Fabris. A transfiguração se configura, portanto, como um novo êxodo, isto é, como um novo caminho, onde se manifesta a salvação universal de Deus Pai, que se dá a partir do sacrifício de seu Filho. É o amor fiel que vence as resistências e faz surgir uma nova esperança para o povo.
Ainda a caminho para Jerusalém, Jesus e os apóstolos passam pela região da Samaria. “Mas os samaritanos não os receberam, porque Jesus dava a impressão de quem se dirigia para Jerusalém” (Lc 9,53). E, por isso, partiram para outro povoado. Por fim, tal capítulo se encerra com as condições para seguir Jesus: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Portanto, “olhar para trás”, isto é, postergar o Reino é, para Jesus, o mesmo que rejeitá-lo. Sejamos fiéis no seguimento e alegres no anúncio da Boa Nova.
Pe. Willian Bento
Pároco da Pároquia Menino Jesus de Praga - Piracicaba