Continuando nossa reflexão sobre a missão de sermos semeadores da esperança, o entendimento da conversão revela-se essencial. A parábola do semeador (Mc 4,1-9), como vimos no artigo anterior, nos mostra que a semente, por si só, não garante frutos, pois o “florescer” depende da qualidade da terra, ou seja, do coração humano. A conversão é esse processo profundo e vivo que transforma terrenos pedregosos, espinhentos ou endurecidos em solo fértil, capaz de acolher e multiplicar a Palavra de Deus.
A catequese, então, não é apenas um conjunto de ensinamentos ou repetições mecânicas. É, antes, uma caminhada onde se desperta a fé, se acompanha o crescimento espiritual e se abre espaço para a ação do Espírito Santo. O Papa Francisco frequentemente nos lembrava que a catequese deve ser um processo de acompanhamento, uma arte delicada de guiar corações que por vezes se mostram resistentes, mas que, com paciência e amor, podem ser tocados pela graça.
É nesse sentido que o Papa Bento XVI nos ensinava que a fé não se reduz a conteúdos, mas nasce do encontro vivo com o Senhor. Quando o catequista assume este papel, ele não apenas dá conhecimento, mas acompanha o caminho da conversão, fortalecendo os corações para que se tornem terreno fértil.
Não podemos esquecer que muitos daqueles que chegam à catequese já trazem consigo dúvidas, preconceitos e feridas espirituais. Eles podem ter sido feridos ou decepcionados com experiências anteriores, podem ter crenças distorcidas ou concepções equivocadas sobre Deus. O catequista precisa ter esta clareza e, ao mesmo tempo, manter firme a certeza do poder transformador da Palavra que anuncia. A semente é boa e suficiente para colocar em movimento processos de conversão: mudança de vida, atitude, prioridades.
Um ponto importante nesta caminhada é a percepção de que a conversão não acontece de forma instantânea ou uniforme. Cada pessoa tem seu tempo, sua história e suas limitações. Alguns poderão dar frutos logo, outros precisarão de mais tempo e cuidado. Por isso, a paciência do catequista é um testemunho da esperança viva; é reconhecer que o resultado da graça não depende do nosso calendário, mas do tempo de Deus em cada coração.
Desse modo, a catequese é também ensinar a acolher tanto os frutos quanto a fraqueza do solo, sem desânimo ou abandono. É aprender a semear com confiança, sabendo que nem tudo está ao nosso alcance, mas confiando que a Palavra lançada pode, a seu tempo, germinar e dar frutos abundantes. Essa humildade é sinal da verdadeira fé madura, que não se desespera com a aparente improdutividade, mas persevera com constância.
Por isso, a conversão é um convite à abertura do coração, uma adesão progressiva à Palavra que exige compromisso e transformação. É um caminho que exige do catequista não só transmitir conhecimento, mas ser testemunha viva da fé que anuncia. O testemunho, mais do que qualquer discurso, é um meio poderoso para que outros se deixem tocar e mudem suas vidas.
A missão dos semeadores da esperança segue, assim, o ritmo do tempo e o compasso do Espírito, que não força terrenos, mas suavemente suscita a vida onde antes havia resistência. O catequista é, portanto, um operário da esperança, amigo paciente da conversão, que reconhece e valoriza cada pequeno avanço, cada fruto mesmo que tímido, e não se cansa de semear.
No próximo artigo, aprofundaremos a importância do testemunho do catequista e da fidelidade à verdade da fé como elementos fundamentais para que a semente lançada encontre acolhida verdadeira e produza frutos que perseverem.
Leia aqui o 1º artigo da série “Semeadores da Esperança”
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba