Nascido em abril de 1581, no pequeno vilarejo de Pouy, terceiro filho de uma família pobre de camponeses, teve uma infância difícil, sendo obrigado a trabalhar como guardador de porcos e ovelhas de sua família. Em um tempo em que a hierarquia da Igreja era composta pelos nobres, tornou-se um dos grandes reformadores religiosos do início do século XVII. São Francisco de Sales (1567-1622) afirmou que Vicente foi o padre mais santo de sua época.
Ordenou-se padre em 1600, aos 19 anos, e sua vida foi marcada por uma profunda preocupação com a vida material e espiritual dos camponeses pobres, a maioria da população na época. A França do século XVII vivia sob um regime monárquico, que vendia privilégios em troca de dinheiro, e os cobradores de impostos eram cruéis. Grande parte de sua vida transcorreu sob o reinado de Luís XIII, período em que a França viveu guerras sob o governo de Richelieu e Mazarino, com o consequente aumento de impostos e tensões sociais.
Vivenciando essa realidade político-social, que perdurou até o absolutismo do rei Luís XIV, Vicente foi influenciado e forçado a agir pela sua consciência, a partir da escuta atenta do grito dos pobres e excluídos de seu tempo. Sua personalidade foi sendo moldada a partir das dificuldades enfrentadas como padre recém-ordenado. Sua reputação foi posta à prova quando foi acusado de ter roubado um juiz. Sua inocência foi comprovada, mas não antes de ter sido expulso e sofrer difamação. Sua segunda prova de fé foi cuidar de um doutor doente durante quatro anos. Enquanto trabalhava normalmente, esgotado e quase sem energia, fez o voto de se dedicar inteiramente aos pobres.
Mas foi o “primeiro sermão da missão”, realizado em 25 de janeiro de 1617, na Igreja de Folleville, que revelou o grande pregador que era o padre Vicente. Ele focou na importância da confissão para aqueles que moravam longe e estavam abandonados, e a repercussão foi tão grande que precisou da ajuda de outros padres para partirem em missão. Antes de se tornar um influenciador de seu tempo, padre Vicente foi sequestrado, escravizado e se colocou ao lado dos remadores das galés. Sua fé e inspiração estavam em Jesus Cristo, e ele era um estudioso do Evangelho.
Percebendo a necessidade de organizar a caridade, fundou, em 17 de abril de 1625, a Congregação da Missão, conhecidos hoje como Padres Lazaristas ou Vicentinos, e cuidou pessoalmente da formação dos novos padres. Entre os anos de 1628 e 1660, entre treze e quatorze mil ordinandos passaram pelo Colégio São Lázaro, que se tornou um ponto de referência para a caridade em Paris.
Esta Congregação, que comemora este ano o Jubileu de 400 anos, cresce em todo o mundo e fundou, em 1870, a St. John’s University, com o objetivo de fornecer aos jovens de Nova York uma educação universitária católica. Oferecendo mais de 100 programas de bacharelado, mestrado e doutorado, a universidade conta com mais de 190 mil ex-alunos em todo o mundo. Localizada no distrito do Queens, possui campi em Roma e Paris.
A segunda experiência motivadora aconteceu nesse mesmo ano de 1617, em Châtillon-les-Dombes, ao perceber a vocação das mulheres para ajudar os pobres. As Senhoras da Caridade, em 1617, e as Filhas da Caridade, em 1633, com a ajuda de Luísa de Marillac, foram criadas para atender pessoas abandonadas à própria sorte.
Em São Paulo, as Filhas da Caridade administram o Colégio Padre Chico, um dos mais antigos do Brasil. Atualmente, elas cuidam de 110 crianças cegas, do infantil ao 9º ano, que são alfabetizadas em braile e recebem café da manhã, almoço, lanche e atividades recreativas. Tudo isso gratuitamente. Sua diretora, Irmã Carolina Mureb, esteve no último domingo em Piracicaba para ministrar uma aula aos vicentinos. Atualmente, são 11.000 Filhas da Caridade em todo o mundo, presentes em mais de 50 países.