Vivemos em uma época em que o mal se apresenta com roupagens sedutoras. Esconde-se sob espetáculos bem produzidos, embalados por músicas envolventes, jogos de luzes, fragrâncias cuidadosamente escolhidas e discursos que disfarçam, por meio de mensagens subliminares, aquilo que antes se reconhecia como erro. O pecado, que um dia causava espanto, hoje circula livremente e, muitas vezes, é consumido como entretenimento. Custa pouco, ou quase nada.
Na narrativa da paixão de Cristo, Judas Iscariotes entregou o Mestre por trinta moedas de prata (Mt 26,15). Um preço insignificante diante da grandeza de quem estava sendo traído. A cena bíblica não é um caso isolado do passado; revela uma constante da história humana. Há sempre o risco de se vender o essencial por ninharias. Trocam-se valores por conveniências, silencia-se a verdade em nome da aceitação, reduz-se a dignidade à busca de gratificação imediata ou de prazeres passageiros.
Enquanto o pecado é oferecido como gratuito, a Salvação teve um preço altíssimo: custou a vida do Filho de Deus. Jesus Cristo, plenamente consciente de sua missão, subiu ao madeiro e ali entregou-se por amor. Seu sacrifício revelou que a vida verdadeira não é conquistada por atalhos, nem se sustenta em ilusões passageiras. Como afirmou Francisco: “Jesus nos salvou assumindo todo o pecado do mundo, até o nosso pecado. Toda a miséria da humanidade está lá” (Audiência Geral, 12/04/2017).
A Paixão não foi espetáculo, foi entrega. Não foi encenação, foi Redenção. Em contraste com a superficialidade do pecado, que se consome facilmente, a Salvação exige profundidade, decisão, renúncia e conversão. O escândalo da cruz desmascara a lógica do mundo e convida à escolha radical pela verdade.
Fica, então, uma provocação: quanto vale aquilo que se tem escolhido? O que se tem trocado por promessas vazias ou por aplausos fáceis? A liberdade humana não está em fazer tudo o que se deseja, mas em reconhecer o que verdadeiramente liberta. O pecado custa barato, sim, mas cobra caro no final. A Salvação, por sua vez, foi paga com sangue — e continua a ser oferecida gratuitamente, mas nunca sem exigência.