Para nós católicos, a espiritualidade envolve todas as dimensões da nossa vida, e a saúde mental não pode ser ignorada ou tratada de modo equivocado. Precisamos olhar corretamente as situações que exigem ajuda profissional e proporcionar a nós e aos outros o cuidado necessário em vista de uma vida cristã equilibrada, sadia e que dê frutos espirituais.
A Igreja possui uma visão integral do ser humano e nos ensina a cuidar de nossa saúde, não descartando a necessidade da Medicina e das demais Ciências que nos auxiliam a enxergar corretamente quem somos e como somos constituídos. A Palavra de Deus nos ilumina ao afirmar: "Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. Toda a medicina provém de Deus. Dela se serve para acalmar as dores e curá-las" (Eclo 38,1-2;6). Desse modo, nosso corpo e também nossa mente precisam de cuidados que não podem ser deixados de lado. É uma das coisas que distingue a vivência madura e sadia da fé de uma vivência distorcida, irracional e geradora de sofrimentos para si e para os outros.
Não é difícil encontrarmos líderes religiosos fundamentalistas que, muitas vezes por falta de formação, tratam transtornos mentais como manifestações demoníacas e prometem uma "cura" apenas por um caminho religioso. Geram, com isso, ainda mais sofrimento para a pessoa e seus familiares. Essa não é a postura da Igreja Católica. A prudência, a racionalidade e o diálogo fé-razão são marcas de nossa identidade católica. A Igreja tem critérios bem claros para distinguir as situações em que se admite uma causa espiritual de outras que precisam de cuidado médico e psicológico, às vezes emergencial.
A graça pressupõe a natureza, ensinava Santo Tomás, significando que a ação de Deus em nossa vida precisa vir com a resposta de nossa parte em co-laborarmos, trabalharmos juntos com Ele, fazendo a nossa parte. Isso não é diferente em nossa saúde mental. Ao presenciarmos condições psicológicas que impedem nossas atividades diárias, paralisando o andamento de nossa vida e gerando intenso sofrimento, a busca por ajuda profissional é fundamental. O adoecimento psíquico é uma realidade que não podemos ignorar. Nem em nós e nem nos outros à nossa volta.
O acolhimento do outro, a escuta dos seus sofrimentos e a compreensão de suas reais necessidades são ensinamentos da Igreja que nos orientam a buscar cada vez mais a valorização da vida em toda a sua plenitude. Quando recorremos aos profissionais da área da saúde mental e unimos esse nosso esforço à vida espiritual, percorremos o caminho da maturidade cristã numa vida equilibrada, mentalmente sadia e espiritualmente fecunda. Assim, podemos cuidar de nós e dos outros à nossa volta, participando do projeto de Deus que a todos quer vida, saúde e salvação.
Renan Gabriel Ribeiro
Seminarista do 3º período de Teologia com pós-graduação em Psicologia