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Entre modismos e a Verdade

Publicado em 15 de abril de 2025 - 13:37:19

Vivemos num tempo em que tudo muda com uma rapidez vertiginosa. O que hoje é sucesso, amanhã pode estar fora de moda. Isso vale para roupas, músicas, opiniões e, perigosamente, também para a religião. O modismo é um comportamento que busca se adaptar à tendência dominante, muitas vezes como resposta rápida e emocional aos desafios da vida. Modismos são como folhas levadas pelo vento: podem impressionar no momento, mas não criam raízes. Quando a fé se transforma em moda, perde seu sentido mais profundo. Colorimos as paredes das igrejas, mas não mudamos o coração.

Esse fenômeno ganha contornos ainda mais delicados quando invade o campo doutrinal. O que podemos chamar de modismo doutrinal é a tentação de adaptar a verdade à conveniência do momento, conveniência da plateia. É o discurso que suaviza as exigências do Evangelho em nome de um "politicamente humano" ou "espiritualmente popular". Em vez de conversão, temos adesão. Em vez de compromisso, temos curtidas. É fácil seguir uma religião quando ela não exige cruz nem renúncia, mas é justamente aí que ela deixa de ser verdadeiramente cristã.

Apesar disso, o novo não deve ser temido. O Evangelho é a boa nova, sempre atual. O problema não está na novidade, mas na sua raiz. As coisas novas que nascem de Deus são uma volta ao princípio, à essência. Como nos ensinou o Papa Bento XVI: “Ser cristão não é resultado de uma decisão ética ou uma grande ideia, mas do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa”. O que é novo em Deus nos leva à fonte, que é Cristo vivo. E esse encontro é sempre transformador, nunca superficial.

Jesus foi claro quando disse: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (Mc 8,35). A proposta cristã é uma troca justa: perder tudo por causa do Reino. Não é sobre ganhar conforto, nem status ou sucesso, mas sobre conhecer Cristo e viver em comunhão com Ele, inclusive em seus sofrimentos. Como escreveu São Paulo: “Fui alcançado por Cristo Jesus, mas ainda corro para alcançá-lo” (cf. Fl 3,12). A fé verdadeira é caminho, e não vitrine.

É nesse sentido que o perdão, tão proclamado como solução fácil, precisa ser bem compreendido. Assim como o pecado tem consequências, o perdão também tem. Ele nos impulsiona à mudança de vida. Não se trata de apagar o passado e continuar tudo igual, mas de deixar-se regenerar. O perdão de Deus é libertador, mas também exigente. Ele nos convida a viver de forma nova, não apenas a sentir-se melhor. A fé que não muda a vida é só aparência.

A grande tentação do nosso tempo é querer os frutos do Evangelho sem abraçar sua raiz, isto é, sem aceitar a cruz. Queremos paz, mas sem conversão. Queremos espiritualidade, sem disciplina. Queremos acolhimento, mas não arrependimento. O risco do modismo religioso é este: tornar a fé um produto de consumo, adaptável às preferências pessoais. Mas a verdade de Cristo não muda com a moda. E, no fundo, é isso que a alma humana mais deseja: uma verdade firme, que salve, que transforme e que não seja só mais uma tendência.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

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