Neste ano de 2025, o tema da Campanha da Fraternidade é: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema, baseado na Bíblia: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Tem pessoas que dizem que não se deve trazer temas sociais durante o tempo da Quaresma, pois a mesma tem apelos de penitência e conversão. Mas é por isso mesmo que tais temas são oportunos para nós nos conscientizarmos da realidade brasileira e procurarmos a conversão sobre temas tão importantes para a vida de cada brasileiro. Todos sofremos as consequências de um descaso com a natureza, desmatando florestas e sujando rios e oceanos, entre outros.
O Brasil é fértil com abundantes bichos, aves, rios, frutos, flores, árvores e ervas com poderes curativos. Os biomas brasileiros tem características próprias. A Amazônia é a maior floresta tropical existente. O Cerrado tem árvores pequenas com casca dura e raízes bem profundas, absorvendo a água dos rios aéreos. A Caatinga tem a mata branca com capacidade de adaptação, hibernando na seca e ressuscitando nas chuvas. A Mata Atlântica é um tesouro de riquezas naturais. O Pantanal é de rara beleza e rico em biodiversidade. Os Pampas com seus campos entre serras e planícies escondem no subsolo o Aquífero Guarani, reservatório de água doce.
A crise socioambiental no Brasil e no mundo é muito complexa. A exploração dos patrimônios naturais, a queima de combustíveis fósseis, a expansão desenfreada do consumo e a relação mercantilista com a natureza contribuem muito para os problemas ambientais, degradando o solo, promovendo o desmatamento, expandindo o extrativismo predatório e aumentando a poluição, a escassez da água, o comprometimento da biodiversidade com a extinção de algumas espécies e as mudanças climáticas em larga escala. A concentração de terra e de riquezas produz grandes desigualdades e injustiças sociais e ambientais.
A substituição da vegetação por pastagens para o gado e por cultivos de soja e plantio de eucalipto e pinus transformam os biomas brasileiros e acentuam os conflitos fundiários e incentivam as invasões de terras indígenas e quilombolas, aumentando a violência contra ativistas ambientais e agentes de pastoral. As emissões contínuas de gás carbônico de fontes como carvão, petróleo, gás e o crescente desmatamento estão levando a níveis recordes de emissão de gazes de efeito estufa, resultando um aquecimento global alarmante. A Carta da Terra, no ano 2.000, já convocava todos os países a lutar pela vida no Planeta.
No Brasil continuamos dando grande peso à gasolina, ao diesel, ao querosene de aviação, ao gás natural e ao carvão mineral. Na ânsia para atender ao mercado consumidor global valorizamos muito pouco as práticas agrícolas sustentáveis, as tecnologias limpas e o uso de materiais menos nocivos ao meio ambiente. Faltam bons programas governamentais para prevenir e reduzir os impactos negativos das mudanças climáticas. Ou mudamos nossa maneira de ser e de agir no mundo, ou deixaremos um mundo insustentável para as gerações futuras, contrariando o projeto de Deus.
O texto base da Campanha da Fraternidade diz que o cuidado “da Casa Comum é um compromisso participado por diferentes culturas, igrejas e religiões. Desde o início do terceiro milênio, diferentes religiões têm refletido e atuado pela vida na Terra, aliando espiritualidade, educação e responsabilidade ambiental” (p. 32). O movimento de conscientização socioambiental tem ganhado bastante força nos últimos tempos, mas ainda existem grupos que promovem ideologicamente a negação das mudanças climáticas, alegando que elas não existem e provocando confusão e dúvida entre as pessoas, dificultando a desejada conversão ecológica.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux (acdelboux@uol.com.br)
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho - SP