O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer divulgou uma nota, como também a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sobre a conclusão das eleições, fez uma nota recordando que o exercício da cidadania não se esgota com o fim do processo eleitoral.
Dom Odilo, falando com a Rádio Vaticano – Vatican News, disse que de fato fez uma breve nota desejando que os eleitos possam desempenhar bem o seu mandato em favor do povo, respeitando o processo democrático.
“Tem que se reconhecer, que quem foi eleito deve governar, e governar bem. E quem não foi eleito vai para a oposição e deve desempenhar o seu papel na oposição, fiscalizando, controlando o governo, não permitindo que se produzam deslizes antidemocráticos ou de corrupção, ou desvios em relação à convivência democrática. Então, a essas alturas superado o processo eleitoral, que de fato foi muito polarizado, não foi fácil, e talvez deixou feridas, daqui para frente temos que olhar esta nova etapa que temos pela frente. Eu espero que o Brasil possa agora entrar no processo de pacificação, de maior colaboração, e de realização das propostas importantes que estiverem em jogo nas propostas da campanha eleitoral. Que isso não tenha sido uma mentira, que não tenha sido para falsificar o processo eleitoral, mas que seja verdadeiro. O povo deu um aval a uma proposta, mas tem que se reconhecer que é um aval que teve uma pequena margem de vantagem, mas alguém ganhou. E quem ganhou dever governar, seja em nível estadual como em nível federal. E o processo democrático prevê isso, a participação não apenas no momento da eleição, que foi importante, mas agora no pós-eleitoral, que é a fiscalização de quem governa e naturalmente a colaboração naquilo que for possível, como sociedade e instituição. Também a Igreja deve colaborar naquilo que é possível em projetos específicos”.
P. Qual é o papel então da igreja agora que se passaram as eleições?
“Bem, a Igreja continuará a desempenhar o seu papel. A igreja não ganhou e não perdeu. Lamentavelmente talvez algumas feridas e rachaduras permanecem depois do processo eleitoral, porque a polarização entrou também nos âmbitos da Igreja no meio das comunidades, no meio do povo e talvez até no meio do clero. Agora, o passo seguinte é sem dúvida trabalhar para reconstruir, onde isso foi perdido, a comunhão eclesial, em torno daquilo que realmente está na base da Igreja. Na base da Igreja, não está um partido, não está uma opção lógica. Na base da Igreja não está opção de um governo, na base da Igreja está o Evangelho. Em torno de Jesus Cristo, do Evangelho, devemos estar juntos apesar das visões políticas diferentes, que, eventualmente são legítimas. É claro, opções políticas que contrariem os princípios do Evangelho nós não podemos apoiar. Porém, existem visões diferentes sobre como resolver os problemas da economia, da ecologia, da educação, de promover a cultura. São visões pluralistas que perfeitamente podem conviver e inclusive se enriquecer reciprocamente. Então, creio que o papel da Igreja primeiramente é zelar pela unidade interna e continuar a fazer o seu papel propositivo também relação à sociedade mais amplamente para que também na grande sociedade plural se encontrem as vias diálogo, do respeito da valorização, dos princípios básicos que devem orientar a convivência”.
Texto: Silvonei José / Vatican News
Foto: Divulgação / Arquidiocese de São Paulo