No último dia 5 de setembro, a Igreja celebrou Santa Teresa de Calcutá.
Na coluna Espiritualidade do jornal diocesano Em Foco deste mês, padre Antonio César Maciel Mota refletiu sobre a santa.
Segue abaixo o texto na íntegra.
Santa Teresa de Calcutá aparece entre os santos que celebramos no mês de setembro e a marca de sua santidade é o amor desmedido aos sofredores, por um lado, e, por outro, a radicalidade com a qual abraçou o seu chamado à consagração. Albanesa, sentiu-se vocacionada à Vida Consagrada desde muito cedo, entrando na Congregação das Irmãs de Loreto aos 18 anos de idade, sendo logo enviada à Índia.
Como Irmãs de Loreto, Madre Teresa sentia-se feliz e estimada, mas, conforme diz em seus escritos autobiográficos, foi percebendo que Cristo a chamava para uma experiência diferenciada e radical que teve início em 1946, quando indo de trem para fazer seu retiro anual, aos pés do Himalaia, tem o coração transpassado pelas palavras de Jesus na Cruz: “Tenho sede” (Jo 19,28). A partir desse momento, o desejo de saciar a sede de Jesus passa a ser a razão de existir daquela jovem freira. Por causa desse “segundo chamado”, ela deixa as Irmãs de Loreto e funda uma congregação nova, as Filhas da Caridade, com a missão de saciar a sede do Crucificado: «Tenho sede», disse Jesus na Cruz, quando era privado de toda consolação, morrendo em absoluta pobreza, deixado só, desprezado e despedaçado de corpo e alma. Ele falava da Sua sede, não de água, mas de amor, de sacrifício... As irmãs [da Caridade] procuram saciar permanentemente esse Deus sedento através do seu amor e do amor das almas que procuram conduzir a Ele (Madre Teresa – Venha, seja minha luz).
Para Madre Teresa o “Tenho sede” de Jesus não é simplesmente um fato ocorrido há dois mil anos, mas é um lancinante grito que ecoa em nosso momento presente, em cada pessoa que sofre, cujo sofrimento se identifica com o grito de Jesus na Cruz. Deus identificou-se com os famintos, enfermos, nus, sem-teto; fome não só de pão, mas também de amor, cuidado, ser considerado por alguém; nudez não só de roupa, mas também daquela compaixão que – na verdade – poucas pessoas sentem pelo indivíduo anônimo; falta de moradia não só pelo fato de não ter uma casa, mas, sobretudo, por não ter ninguém a quem chamar querido.
O “Tenho sede” do Crucificado ecoa, na verdade, em cada pessoa humana, que é sedenta de amor, do amor que é Deus. Por isso, a espiritualidade de Teresa se manifesta na sua relação com os sofredores, não é simplesmente uma filantropia, nem mesmo solidariedade, é algo mais profundo, é fraternidade. A Madre de Calcutá foi aprendendo que ela mesma – pelo simples fato de ser humana – é uma necessitada desse amor proposto por Jesus e pelo próximo. Na necessidade de amor todos são irmãos. No mundo as pessoas podem parecer diversas ou ter uma religião, uma instrução ou uma posição diferente, mas são todas iguais. São pessoas feitas para amar, todas têm fome de amor. As pessoas das ruas de Calcutá têm fome no corpo, mas as pessoas que moram em Londres ou New York também têm uma fome que precisa ser saciada, toda pessoa tem necessidade de ser amada. Desse laço fraternal, realizado pela necessidade de amor, emerge o valor da reciprocidade: Eu posso fazer algumas coisas que tu não podes, tu podes fazer coisas que eu não posso. Juntos, podemos fazer grandes coisas. Dessa maneira, toda pessoa aparece como Cristo na vida da outra, seja pedindo água ou dando de beber, pois é no encontro entre o que dá e o que recebe que o “Tenho sede de Jesus” é saciado. Saciado num pedaço de pão doado, mas também num gesto de atenção dispensado. Nunca saberemos o quanto de bem faz um simples sorriso.
Em Madre Teresa, todos – com o que têm e o pouco que têm – podem atender Jesus que ainda hoje nos chama: “Tenho sede” (Jo 19,28).
Pe. Antonio César Maciel Mota
Pároco da Paróquia São João Batista em Rio Claro
Docente do Curso Diocesano de Teologia
theologia.amoris@gmail.com
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