Notícias da Diocese

Homilia de Dom Fernando Mason da Missa dos Santos Óleos

Publicado em 26 de março de 2016 - 17:52:40

Caros Presbíteros,
Caros Diáconos, Seminaristas, Religiosos e Religiosas,
Caríssimo Dom Aloísio, Bispo Emérito de Jataí, Goiás,
Querido Povo santo de Deus aqui reunido, particularmente vocês, aqui presentes, representando nossas comunidades paroquiais.

Por esta homilia, vamos recordar os dois momentos que caracterizam esta celebração: o primeiro que poderíamos chamar de momento sacerdotal-presbiteral e o segundo que se refere à benção dos santos óleos.

Os dois momentos estão ligados pela afirmação da 1ª leitura afirma: O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, atualizada por Jesus no Evangelho, quando diz: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.

Ao celebrarmos o momento sacerdotal-presbiteral concentremos nossa atenção em quem somos, concentremo-nos na vocação que nos tem, no desafio da convocação de sermos padres, cooperadores da missão do Bom Pastor, na grandeza de poder atuar "in persona Christi"; fixemos também nossa atenção na nobreza de nosso empenho de evangelizar.

A nossa identidade originária consiste em querer de todo o coração, livre, gratuita e cordialmente, crescer e consumar-nos na realização do Encontro com JC, o Bom Pastor, sendo discípulos dele pelo Seguimento. E a partir deste fundamento, acolher como privilégio singular a convocação de participar da "paixão pastoral" (tenho compaixão deste povo sem pastor) e, portanto, do "múnus pastoral" de Jesus Cristo, recebendo para isso habilitação sacramental e pública, pelo sacramento da Ordem.

O Encontro com "Tu-Jesus Cristo, o Bom Pastor", é a experiência originária, a experiência primordial do presbítero. O encontro faz o presbítero participante da paixão e do múnus de JC. Portanto as palavras "Bom Pastor" expressam a característica principal da espiritualidade presbiteral. Tentar auscultar o sentido destas palavras, isto é, tentar compreendê-las e vive-las, é tentar intuir o colorido, o perfil, o sentido da existência presbiteral.

Experiência que precisamos buscar todos os dias e todos os dias crescer nela.

Quanto mais crescemos no encontro com Ele, nós que sempre somos tentados pela indiferença, nos sentimos convocados a nos doar às "ovelhas sem pastor" (Mc 6,34), porque vemos o Bom Pastor constantemente doando-se a elas. E sentimos afeição e "doçura" nesta convocação.

O 2º momento desta nossa celebração se refere à benção dos santos óleos.

Estes óleos são santos, cada um em sua diferença, porque o Espírito do Senhor está sobre eles e sobre nós, hoje. Eles tornam-se presentes em diversos momentos de nossa ação pastoral, nos momentos privilegiados de evangelização que alcançam a intensidade sacramental. Eles nos falam de nossa missão de atualizar aquilo que a primeira leitura e o Evangelho dizem: Ele me consagrou para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor.

Missão é ser apaixonado do Evangelho e do povo que é de Deus. Toda eficácia da ação pastoral está ligada à capacidade de cada Presbítero ser um apaixonado do evangelho e do povo, como Jesus o era.

Parafraseando uma homilia do Papa Francisco, recordemos que o Senhor nos ungiu com óleo da alegria, e esta unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal. A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus: do meio deste povo fiel, o sacerdote é chamado para ser ungido e ao mesmo tempo é enviado para ungir a este povo. Ungidos com óleo de alegria para ungir com óleo de alegria.

O bom sacerdote se reconhece pelo modo como unge o seu povo; neste ungir o povo a ele confiado temos uma prova clara de sua própria unção. Esta unção do povo com óleo da alegria se faz visível, por exemplo, quando o povo sai da Missa com o rosto de quem recebeu uma boa notícia. O nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção, quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo de Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, «as periferias» onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear a sua fé.

E quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue a Deus nosso Senhor: «Reze por mim, padre, porque tenho este problema», «abençoe-me, padre», «reze para mim»... Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é transformada em súplica – súplica do Povo de Deus.

Quando estamos nesta relação com Deus e com o seu Povo, quando a graça passa através de nós, então somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens, somos semeadores de paz e de bem. O que pretendo sublinhar, diz o Santo Padre, é que devemos reavivar sempre em nós a graça, para intuirmos, em cada pedido – por vezes inoportuno, puramente material ou mesmo banal (mas só́ aparentemente!), – o desejo que tem o nosso povo de ser ungido com o óleo perfumado, porque sabe que nós o possuímos. Intuir e sentir, como o Jesus sentiu a angustia permeada de esperança da mulher que sofria de um fluxo de sangue quando ela lhe tocou a fímbria do manto. Este instante de Jesus, no meio das pessoas que o rodeavam por todos os lados, encarna toda a beleza de Aarão revestido sacerdotalmente e com o óleo que escorre pelas suas vestes. É uma beleza escondida, que brilha apenas para aqueles olhos cheios de fé da mulher atormentada pela doença. Os próprios discípulos – futuros sacerdotes – não conseguem ver, não compreendem: na «periferia existencial», veem apenas a superficialidade de uma multidão que aperta Jesus de todos os lados quase o sufocando (cf. Lc 8, 42). Ao contrário, o Senhor sente a força da unção divina que chega às bordas do seu manto...

O sacerdote, que sai pouco de si mesmo, que unge pouco – não digo «nada», porque, graças a Deus, o povo nos rouba a unção –, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do nosso coração sacerdotal. Quem nãõ sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. A diferença é bem conhecida de todos: o intermediário e o gestor «já receberam a sua recompensa». É que, não colocando em jogo a pele e o próprio coração, não recebem aquele agradecimento carinhoso que nasce do coração dos fiéis; e daí́ deriva precisamente a insatisfação de alguns, que acabam por viver tristes, padres tristes, e transformados numa espécie de colecionadores de antiguidades ou então de novidades, em vez de serem pastores.

Diz ainda o Papa: “A tarefa de ungir o povo fiel não é fácil, é dura; causa fadiga e leva-nos ao cansaço. E nós experimentamo-lo em todas as suas formas: desde o cansaço habitual do trabalho apostólico diário até́ ao da doença e da morte, incluindo o consumar-se no martírio. /.../. A nossa fadiga é preciosa aos olhos de Jesus, que nos acolhe e faz levantar o ânimo: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei» (Mt 11, 28). Se uma pessoa sabe que, morta de cansaço, pode prostrar-se em adoração e dizer: «Senhor, por hoje basta! », rendendo-se ao Pai, sabe também que, ao fazê-lo, não cai, mas se renova, pois o Senhor que ungiu com o óleo da alegria o povo fiel de Deus, também unge a ele: «Muda a sua cinza em coroa, o seu semblante triste em perfume de festa e o seu abatimento em cantos de festa», como diz o profeta Isaias (cf.Is 61, 3).

Sabiamente, caros Presbíteros, o ritual desta celebração nos propõe a renovação das promessas que fizemos no dia de nossa Ordenação Presbiteral. Vamos, sim, renová-las, conscientes que o Senhor nos ungiu em Cristo com óleo da alegria; vamos renová-las como oportunidade de crescimento na nossa experiência primordial de sermos participantes do pastoreio do Bom Pastor Jesus, o Messias, o Ungido pelo Espírito do Pai.

 

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