Com uma média de 4.500 crianças atendidas anualmente, a estimativa é que cerca de 160 mil meninos e meninas tenham passado pela Pastoral da Criança, nas 15 cidades da diocese, desde 1987, segundo a coordenadora Marina Rodrigues dos Santos Nascimento de Carvalho.
Nos anos 1980, o mundo todo passava por profundas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais. O Brasil também vivia suas metamorfoses, mas na caminhada rumo ao final do século XX, um dos grandes desafios do país ainda era a mortalidade infantil, indicativo de precárias condições de vida e saúde da população, principalmente dos mais pobres.
O Brasil dos anos 80 registrava cerca de 69 óbitos de bebês até um ano para cada grupo de mil nascidos vivos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo no Estado de São Paulo, onde os números caíam desde 1940, segundo a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a mortalidade ainda estava na casa de 50 por mil nascidos vivos no início da década.
É nesse contexto e com participação fundamental da médica sanitarista e pediatra Dra. Zilda Arns Neumann que nasce, no Paraná, e logo se espalha por dioceses e arquidioceses de todo país a Pastoral da Criança, com objetivo de combater a desnutrição e promover melhores condições de vida e saúde à população infantil.
Dra. Zilda Arns conheceu trabalho que era desenvolvido na Pastoral da Criança da Diocese de Piracicaba (Foto: Arquivo / Diocese)
Em Piracicaba, esse organismo da Igreja Católica foi criado oficialmente em 8 de abril de 1987, por iniciativa do terceiro bispo diocesano, Dom Eduardo Koaik, do casal Antonio Ferraz do Canto e Maria Berchmans Canto (a Dona Bergue) e a assistente social Maria Elizabeth Papini Nardin.
Na época em que a Pastoral da Criança foi fundada na diocese, a mortalidade infantil na cidade era próxima dos 30 óbitos por mil nascidos vivos, de acordo com informações da Fundação Seade disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba. Já em 2019, o Departamento Regional de Saúde (DRS 10), que inclui 14 das 15 cidades da Diocese, registrou mortalidade infantil de 9,9 por mil nascidos vivos, um número dentro do que considera “aceitável” a Organização Mundial da Saúde.
“Nosso objetivo sempre foi ajudar a salvar vidas. Sempre digo para as pessoas que são voluntárias na pastoral que cada vida, de cada criança, que ajudam a salvar é um bem enorme que se faz. O próprio Jesus disse: Vim para que todos tenham vida e vida em abundância”, recorda dona Bergue.
O trabalho local tornou-se referência e, a convite da Dra. Zilda Arns, dona Bergue e o marido, Antonio Ferraz do Canto, chegaram à coordenação estadual da Pastoral da Criança. O casal desempenhou a função durante cinco anos, período em que deram suporte às pastorais de todo território paulista.
“Aprendemos e ensinamos às famílias que uma criança precisa de três ‘As’ para se desenvolver bem: alimento, amor e atenção. O trabalho é mostrar o valor inestimável que esses três ‘As’ têm e a diferença que isso faz na vida de cada pessoa”, destacou dona Bergue.
Casal Antonio Ferraz do Canto e Maria Berchmans Canto (Dona Bergue) com Zilda Arns e Dom Eduardo Koaik (Foto: Arquivo / Família Canto)
Atualmente, todo trabalho da pastoral é desenvolvido por 420 lideranças distribuídas em paróquias das cidades da Diocese. De acordo com a coordenadora Marina, são acompanhadas neste ano 3.651 crianças, além de 151 gestantes. “A média anual é de 4.500 crianças, mas infelizmente tivemos uma redução no período da pandemia”, informou.
Os principais trabalhos são os acompanhamentos de gestantes e crianças até 6 anos, com orientações nutricionais, visitas domiciliares mensais, pesagem dos bebês. Mensalmente, ocorre também a “celebração da vida”, que é um encontro com as famílias de cada localidade. O evento conta com a participação de um articulador de saúde e também de equipe de recreação (os brinquedistas), além de distribuição de lanches.
“O atendimento prioritário é às famílias carentes, mas a função não é distribuir alimentos. Nosso papel fundamental é fazer a orientação sobre nutrição e alimentação saudável. Porém, quando nos deparamos com famílias muito carentes, encaminhamos para os Vicentinos ou para a Pastoral Social. Então é feito um trabalho assistencial em conjunto com a Pastoral da Criança”, explicou Marina.
“Embora também exista uma ideia de que a Pastoral da Criança é só para famílias carentes, na verdade, ela é uma pastoral para todos. Qualquer família que quiser, pode ter o acompanhamento. Nós trabalhamos principalmente com a informação para promover o bom desenvolvimento das crianças”, completou.
Há 22 anos na pastoral, Marina entrou como líder voluntária e assumiu a coordenação em abril de 2021, nomeada por Dom Devair. “Sinto-me honrada por ter recebido o chamado de Deus para essa missão e estar há 22 anos neste lindo trabalho voluntário. Após todo esse tempo, hoje estou à frente como coordenadora diocesana auxiliando 46 paróquias da nossa Diocese”, comentou.
Voluntárias preparam lanche durante encontro de celebração da vida (Foto: Pastoral da Criança)
Para as pessoas que tiverem interesse em receber o acompanhamento da Pastoral da Crianças, basta procurar uma representante da equipe na paróquia mais próxima de seu bairro ou falar com um padre da comunidade. O mesmo vale para quem quiser fazer o trabalho voluntário. Para ser um agente da Pastoral da Criança, porém, é necessário realizar uma capacitação que irá preparar o candidato para o serviço à população atendida. O padre Cláudio César de Carvalho, pároco da Paróquia São Pedro, em São Pedro, é o animador diocesano da pastoral para o período 2022-2023.