Todos os anos a liturgia da Igreja tem uma forma de apresentar os textos, sobretudo do Evangelho e do Antigo Testamento, para que nós possamos ter uma compreensão e uma leitura de toda a Sagrada Escritura. Quem fala que católico não lê Bíblia é porque não vai à missa. Se fosse à missa, saberia muito bem disso.
A liturgia vai alternando os textos especialmente do Evangelho em três anos diferentes: ano A, ano B e ano C, Mateus, Marcos e Lucas. Nós estamos celebrando, em 2022, o ano C. Por isso, particularmente neste ano, nós ouviremos os textos do Evangelho segundo São Lucas, algumas exceções, em determinadas datas.
Neste domingo (16), também estamos praticamente iniciando o Tempo Comum, que é aquele período em que Jesus vai mostrando a sua realidade, vai se revelando aos seus discípulos. Jesus convida os discípulos a estarem com Ele para fazer uma escola pedagógica de formação. É como se fosse um grande seminário para o qual Jesus chama os seus discípulos para ensinar a eles o que é ser discípulo de Jesus Cristo. E nós vamos acompanhando isso durante o Tempo Comum.
Hoje, estamos celebrando o 2º Domingo do Tempo Comum. Neste ano particularmente a liturgia nos coloca uma sequência de textos que é bastante interessante. Há duas semanas, nós estávamos celebrando a Epifania do Senhor, texto do Evangelho de Mateus. Semana passada, o Batismo do Senhor, texto do Evangelho de Lucas. E neste domingo (16) estamos celebrando com o Evangelho de São João as Bodas de Caná.
Por que que esses três textos são interessantes? Porque são situações que revelam Jesus. Na Epifania, são sinais do tempo, sinais dos céus que revelam quem é Jesus, quando os magos acompanham a estrela e, acompanhando a estrela, eles vão ao lugar onde estava Jesus com sua mãe Maria e José. Naquele lugar Jesus é revelado, é manifestado às nações.
No domingo seguinte, no Batismo do Senhor, Jesus é revelado por uma voz que desce do céu, uma voz que vem do céu e fala: “Este é o meu filho amado”. É o próprio Deus, o próprio Pai, que confirma que na presença de Jesus está a realidade Divina. Jesus é filho de Deus, é aquele que foi enviado e é do próprio Pai a voz vinda do céu que manifesta isso, que revela Jesus.
Neste domingo (16), Jesus é revelado pelas suas obras. São as obras de Jesus que manifestam que Ele veio para ser aquela alegria que nós ouvimos em Isaías (62,1-5), quando o profeta fala da alegria do cumprimento da Palavra de Deus, do cumprimento e da realização da vontade de Deus. Os profetas anunciaram que Deus iria cumprir a sua vontade no futuro, que Deus realizaria a sua vontade no futuro. Mas, agora, não é mais simplesmente uma palavra, pois o Verbo de Deus se fez carne. A palavra de Deus assumiu a nossa natureza humana, assumiu a nossa condição, na fragilidade de uma criança, nas circunstâncias de um lugar, de uma vida. Jesus nasceu de Maria, da carne de Maria. Foi cuidado por Maria e José, precisou do cuidado dos pais. Mas agora, adulto, ele manifesta pelas suas obras que ele é o filho de Deus.
O Evangelho de São João vai colocar isso naquela chamada primeira semana, como se fosse uma grande inauguração da vida de Jesus. E o que Jesus realizou em Caná, na Galileia, é o primeiro sinal. E qual é o grande sinal? A transformação de água em vinho.
Jesus, seus discípulos e também Maria foram convidados para uma festa, que estava muito boa, mas de repente acabou a alegria da festa. O vinho é sinal de alegria, o vinho é sinal de coisa boa, de partilha, de fartura. Aquela família preparou uma grande festa, mas faltou alegria. E Maria toma a iniciativa de ir a Jesus e dizer: “Eles não têm mais vinho”. Jesus então dá uma resposta que, no primeiro momento, nós podemos achar mal-educada: “A minha hora não chegou.”
Qual é a hora de Jesus? É o momento da Cruz. A hora definitiva em que, de fato, Jesus se mostra como o filho de Deus, obediente em tudo à vontade de Deus, é o que acontece no mistério da Cruz. Pois é na Cruz que toda a ação de Jesus e que todas as palavras dos profetas se confirmam.
Logo em seguida, no entanto, Jesus dá uma ordem: “Enchei as talhas de água”. Para quem precisava de vinho, encher as talhas de água parece uma coisa inútil. Às vezes, na nossa vida, fazemos coisas que não sabemos o motivo, que parecem sem sentido, que parecem inúteis. E para que serve tudo isso? A obediência a Deus é o fundamento da ação miraculosa. A obediência a Deus é o princípio da transformação!
Para aquelas pessoas, encher aquelas talhas com água boa certamente não foi um serviço fácil, não havia uma mangueira ali para colocar a água nas talhas, certamente essa água precisava ser buscada, tirada de algum lugar. Foi um esforço necessário. A obediência a Deus exige um esforço, mas foi por causa da obediência que ali acontece uma grande transformação: a água se transforma em vinho.
Vamos pensar praticamente na nossa vida. Quando Deus nos pede alguma coisa, façamos com alegria. Quando Deus pede de nós algum esforço, façamos com coragem, não tenhamos preguiça de entrar na vontade de Deus. Se nós enchemos as nossas talhas apenas pela metade, o vinho não será pleno. Deus não vai fazer aparecer vinho do nada. Deus não vai realizar obras quando nós temos preguiça de entrar na sua vontade. Deus não vai operar maravilhas, se nós ficamos com medo de fazer as coisas.
Deus faz o milagre. Nós não temos a capacidade de transformar ou de fazer milagres, de operar coisas grandes, de transformar a água em vinho. Mas nós podemos, sim, com esforço, encher as talhas. Isso é necessário para que Deus faça um milagre. É assim que vida cristã precisa ser vivida. Deus se revela, mas nós precisamos acolher esta revelação de Deus. Nós precisamos acolher este Deus que se revela e, assim, quando nós entramos nessa obediência, nós contemplamos as maravilhas de Deus. Essa é a vida cristã. Esse é o chamado à vida cristã. Essa era a escola que Jesus fazia com seus discípulos, a escola do Evangelho. É o que Ele quer fazer também com cada um de nós.