A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe foi realizada de 21 a 28 de novembro, na Cidade do México, com um número restrito de participantes presencialmente e outros delegados participantes on-line. Como membro do Regional Sul 1 da CNBB, Dom Devair Araújo da Fonseca, bispo diocesano de Piracicaba, é um dos representantes do Brasil no evento.
Integrando um dos grupos de trabalho, Dom Devair participou das discussões sobre diversos temas, entre os quais foram definidos os prioritários para compor o documento final da Assembleia. "Eram 50 grupos de trabalho ao todo e, após muita reflexão e diálogo, as questões mais urgentes foram encaminhadas para a Secretaria Geral da Assembleia", explicou o bispo de Piracicaba.
No sábado, 27 de novembro, penúltimo dia de Assembleia Eclesial, foram apresentados os desafios pastorais que foram refletidos durante os dias de trabalho. Os delegados construíram juntos, através das apresentações e, sobretudo, diálogos em grupo, os 12 pontos que podem orientar e motivar a vida pastoral do povo latino-americano.
1. Reconhecer e valorizar o papel dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação.
2. Acompanhar as vítimas de injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação.
3. Promover a participação ativa das mulheres em ministérios, órgãos governamentais, discernimento e tomada de decisões eclesiais.
4. Promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana desde a sua concepção até o seu fim natural.
5. Aumentar a formação da sinodalidade para erradicar o clericalismo.
6. Promover a participação dos leigos em espaços de transformação cultural, política, social e eclesial.
7. Ouvir o grito dos pobres, excluídos e descartados.
8. Reformar os itinerários formativos dos seminários, incluindo temas como ecologia integral, povos nativos, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja.
9. Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, nosso conceito e experiência da Igreja do Povo de Deus, em comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, que evita o clericalismo e favorece a conversão pastoral.
10. Reafirmar e dar prioridade a uma ecologia integral em nossas comunidades a partir dos quatro sonhos da Querida Amazônia.
11. Promover um encontro pessoal com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente.
12. Acompanhar os povos nativos e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas.
Conforme divulgou a Pastoral da Comunicação (Pascom Brasil), nesta segunda-feira (29), após o encerramento do evento, Dom Miguel Cabrejos, presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), destacou: “É Jesus Cristo Ressuscitado que nos convocou mais uma vez” para “comunicar por um transbordamento de alegria a alegria do encontro com Ele, para que nele tenhamos vida plena”, como nos diz Aparecida.
Sentindo a companhia de Jesus na “tarefa empreendida de repensar e relançar a missão evangelizadora”, a mensagem final reconhece a necessidade de “um caminho de conversão resolutamente missionário”, que tem como pressuposto a necessidade de “maior responsabilidade pastoral”.
A Assembleia foi vivida, o documento afirma, como “uma verdadeira experiência de sinodalidade, em escuta mútua e discernimento comunitário do que o Espírito quer dizer a sua Igreja”. Da “diversidade multifacetada”, os participantes da Assembleia “voltaram-se para as realidades do continente, em suas dores e esperanças”.
O texto observa e denuncia a dor “dos mais pobres e vulneráveis que sofrem o flagelo da miséria e da injustiça”; também “o grito de destruição da casa comum” e a “cultura descartável” que afeta sobretudo as mulheres, migrantes e refugiados, os idosos, os povos indígenas e afrodescendentes”. A Assembleia diz sentir a dor provocada “pelo impacto e pelas consequências da pandemia que aumenta ainda mais as desigualdades sociais, comprometendo até mesmo a segurança alimentar de uma grande parte de nossa população”.
Os pecados intra-eclesiais também provocam dor, como “o clericalismo e o autoritarismo nas relações, o que leva à exclusão dos leigos, especialmente das mulheres, no discernimento e na tomada de decisões sobre a missão da Igreja, constituindo um grande obstáculo à sinodalidade”. Junto com isso, é expressa a preocupação com “a falta de profetismo e de solidariedade efetiva com os mais pobres e vulneráveis”.
Mas também há esperança, nascida da “presença dos sinais do Reino de Deus, que levam a novas formas de escuta e de discernimento”. A mensagem mostra o caminho sinodal como “um espaço significativo de encontro e abertura para a transformação das estruturas eclesiais e sociais que permitem um renovado impulso missionário e uma proximidade com os mais pobres e excluídos”. A vida religiosa, “mulheres e homens que, vivendo contra a maré, dão testemunho da boa nova do Evangelho”, e a piedade popular são também um motivo de esperança.
Escuta e discernimento
Vivemos “um Kairos, um tempo favorável à escuta e ao discernimento” que se conecta com o Magistério e “nos impele a abrir novos caminhos missionários em direção às periferias geográficas e existenciais e aos lugares próprios de uma Igreja em saída”.
A partir daí ele pergunta sobre os desafios e orientações pastorais a serem assumidos, dizendo que “a voz do Espírito ressoou em meio ao diálogo e ao discernimento”, pedindo uma maior encarnação, acompanhamento e promoção dos jovens, atenção às vítimas de abusos, participação ativa das mulheres nos ministérios e nos espaços de discernimento e tomada de decisões eclesiais.
Também a promoção da vida em sua totalidade, a formação em sinodalidade para erradicar o clericalismo, a participação leiga em espaços de transformação, a escuta e o acompanhamento do grito dos pobres, dos excluídos e dos descartados. Foi apontada a necessidade de novos programas de formação nos seminários, de dar valor aos povos nativos, de inculturação e interculturalidade, de lidar com questões sociais e de formação em sinodalidade.
Na longa lista de elementos a serem levados em conta, não é fácil resumir as contribuições de tantas pessoas, foi lembrada a importância da experiência do Povo de Deus, de viver os sonhos da Querida Amazônia, de acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e de suas culturas.
Texto: com informações da CNBB, Pascom Brasil e Pe. Luís Miguel Modino, membro da Equipe de Comunicação Assembleia Eclesial