Durante a Santa Missa celebrada na manhã do domingo (16), na Catedral de Santo Antônio, em Piracicaba (SP), Dom Devair Araújo da Fonseca fez uma comparação entre as leituras do Evangelho e o tempo atual. O Bispo Diocesano alertou aos fieis que assistiam à celebração presencialmente e também pela transmissão ao vivo na internet que a pandemia de coronavírus não é “desculpa” para ser menos cristão e para o individualismo.
“O tempo da quarentena que vivemos é para preservação da saúde e da vida, mas não pode ser uma separação entre pessoas enquanto pessoas. Não pode ser a acomodação da nossa fé (...). A quarentena é necessária. O distanciamento social é necessário. As medidas de higienização são importantes? Sim. Mas estamos usando isso como desculpa para justificar nossa pouca vontade de nos encontrarmos, de nos relacionarmos, de vivermos de fato como cristãos e de dar testemunho de nossa fé, de encontrar alternativas para viver a fé!”, afirmou Dom Devair (assista à homilia completa no vídeo acima).
“Por causa da pandemia, estamos vivendo um tempo de fechamento. Nós estamos mais fechados, estamos mais temerosos e distantes uns dos outros. Mas não é só a distância que nos separa nos bancos da igreja ou nas filas. O distanciamento é importante, mas isso não pode nos levar a um afastamento. Eu me pergunto: Será que, quando sairmos deste tempo de pandemia, estaremos mais dispostos a anunciar o Reino Deus? Vamos estar mais convencidos da presença de Deus? Ou será que estamos usando o tempo da pandemia para justificar o que é cômodo para nós? ‘Eu não preciso ir à igreja porque parece ser uma coisa perigosa’. No entanto, não é perigoso ir ao restaurante, fazer compras no supermercado, passear pelas ruas e encher o comércio às vésperas de feriado. Não é mais perigoso fazer certas coisas que fazemos em família, mas parece perigoso ir à igreja”, disse.
E continuou: “Estamos criando distâncias que vão justificando o individualismo, a separação.” Dom Devair enfatizou que muitas pessoas podem estar deixando de viver a fé, não por causa das exigências do tempo de pandemia, mas porque é mais fácil, porque é o mais cômodo. “Mas certamente, isso não é o mais cristão”, alertou. O bispo encorajou os fieis a continuarem a missão de anunciar o Reino de Deus e de buscar alternativas para não cair no individualismo, mas “sair ao encontro dos mais necessitados”.
À luz do Evangelho
No domingo (16), a Igreja festejou a solenidade da Ascensão do Senhor e, por isso, as leituras bíblicas da celebração faziam referência ao período de 40 dias que Jesus, ressuscitado, permaneceu entre os discípulos após a crucificação em Jerusalém.
Dom Devair, em sua reflexão, lembrou que a primeira leitura do domingo (At 1,1-11) também mencionava um período de quarentena. “Jesus foi rejeitado e perseguido durante a vida e depois foi crucificado. Podemos imaginar que os discípulos também ficaram com medo e se fecharam. Aquela quarentena também foi fechada”, comparou o bispo.
“Depois daqueles 40 dias pouca coisa havia mudado. Os discípulos não encontraram um mundo mais aberto ao anúncio do Evangelho. Tanto é que tiveram mortes violentas. Mas o que estava diferente? Era a presença do Ressuscitado na vida deles”, afirmou.
“O encontro com o Ressuscitado é fundamental para que a pregação não seja uma palavra jogada ao vento. Para que venha acompanhada de uma certeza: nós não estamos sozinhos, nós caminhamos na graça de Deus que envia seu Espírito para que o anúncio do Reino de Deus continue”.
Conforme Dom Devair, é por isso que os discípulos continuaram sendo perseguidos, mas mesmo assim saíram para anunciar o Evangelho. Outro ponto destacado pelo Bispo Diocesano em sua homilia foi a relação entre a Ascensão do Senhor e vivência da fé para os cristãos.
“Na Ascenção do Senhor, Cristo carrega para o íntimo da Santíssima Trindade a nossa humanidade. Ele mostra as feridas da crucificação aos discípulos, pois é o mesmo corpo, não é um fantasma, como ele mesmo diz. Mas o Jesus que subiu não nos abandonou. Após a subida aos céus, o anjo pergunta por que os discípulos estão olhando para cima. É fácil ficar olhando para o céu, mas pode ser um sinal de acomodação. Desejar o céu é muito, muito bom, mas antes precisamos plantar na terra. Precisamos viver nesta terra, trabalhar aqui, viver a nossa fé nesta realidade. É assim que vamos para o céu. Não há uma escada mágica que desce e nós vamos subir. Ao contrário. É pelo empenho nesta vida, pelo compromisso nesta vida, para sair e ir ao encontro dos que precisam”.
Missas presididas pelo Bispo têm transmissão ao vivo aos domingos