Notícias da Diocese

Homilia de Dom Devair na Missa de Posse

Publicado em 16 de janeiro de 2021 - 18:50:43

Eminência Reverendíssima, Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo;
Excelência Reverendíssima, Dom Frei Fernando Mason, bispo emérito de Piracicaba;
Excelência Reverendíssima, Dom Pedro Luís Stringhini, presidente do Regional Sul-1 da CNBB;
Caríssimos irmãos arcebispos e bispos, em particular os irmãos bispos auxiliares da Arquidiocese de São Paulo, com quem tive um tempo de feliz convivência;
Padres, diáconos, religiosos e religiosas de outras dioceses, aqui presentes;
Irmãos de outras comunidades cristãs;
Autoridades civis e militares;
Filhos e filhas da Diocese de Piracicaba, padres, diáconos, religiosos, religiosas e leigos;
Aos que nos acompanham pelas redes sociais, Rádio 9 de Julho, TV Oração, TV Claret e Rede Vida (Canal da Família);
Particularmente, faço menção a tantas pessoas que não puderam estar presentes, por conta das restrições impostas. Trago todos vocês em meus pensamentos e orações. Saudação a todos.


Desde o princípio, nas primeiras comunidades cristãs, sempre foi uma necessidade prover um bispo para garantir a tradição apostólica. Foi por isso que apóstolos escolheram seus sucessores e os colocaram à frente nas novas igrejas, que foram surgindo em grande número. Esse não é apenas um costume católico, mas é parte da nossa fé.

Cabe ao sucessor de Pedro, o primeiro entre os apóstolos, a tarefa de eleger, nomear e prover cada uma das Igrejas Particulares em todo mundo. Em nosso tempo, o Sucessor de Pedro é o Papa Francisco, que olhou com atenção para o povo de Deus, reunido na Diocese de Piracicaba e acolheu o pedido de renúncia do irmão no episcopado Dom Frei Fernando Mason, nomeando-me como seu sucessor.

Ao longo dos últimos 15 anos, o senhor, Dom Fernando, tem doado sua vida a esta diocese, com zelo apostólico e espírito missionário, de quem veio de longe e aqui plantou raízes. Deus lhe pague por todo o bem que fez a este povo da Diocese de Piracicaba. Conto com suas orações agora que se inicia o meu ministério episcopal, aqui.

A Palavra de Deus é sempre luz para os nossos passos. Ela nos orienta, conforta e sustenta no dia a dia. A mesa da Palavra aponta para a mesa da Eucaristia, onde Cristo se faz presente, nas espécies do Pão e do Vinho, no Corpo e Sangue do Senhor. Como disse São João Paulo II, “a Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”. Nestes tempos, encontramos enormes dificuldades em reunir nossas comunidades para celebrar. Quantos gostariam de estar aqui em nossa catedral e não podem!

A primeira leitura nos lembra que, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho. A plenitude dos tempos diz respeito àquele longo caminho, percorrido por homens e mulheres, desde a aliança com Abraão até a visita do anjo a Maria. Um caminho que foi marcado por muitas quedas, desvios e infidelidades do povo escolhido. Mas um caminho que em foi revelando o amor, a misericórdia e a paciência de Deus.

Na plenitude dos tempos, o Verbo de Deus, Jesus, assumiu a nossa natureza. Assumiu nossas fraquezas, nossas incertezas, nossos medos e dores. Todos nós temos essas fraquezas. Assumiu nossa humanidade, para, a partir dela, restaurar e elevar a nossa condição, como filhos de Deus. Ele nos abriu o caminho e nos fez passar do jardim para a intimidade da casa do Pai. Tudo por graça de Deus.

“Houve uma festa de casamento em Caná da Galileia”, assim começou o evangelho que acabamos de ouvir. Superando preconceitos e divisões, o profeta Isaías anunciou que a Galileia, a periferia das nações, seria o lugar da proclamação do Reino. A festa aconteceu na periferia e lá estava Jesus, seus discípulos e sua mãe. Mas o vinho acabou, e com ele também acabou a alegria da festa.

Maria foi a Jesus e disse: “Eles não têm mais vinho”. Jesus respondeu: “Mulher, porque dizes isto a mim?”. Parece que Jesus não se importa com esse acontecimento menor; a festa não é da sua responsabilidade. Mas Jesus não ficou isolado, porque nenhuma realidade verdadeiramente humana, nenhum sofrimento ou tristeza está longe do seu coração. Assim como nenhuma realidade humana pode ficar longe do coração dos discípulos de Cristo.

O Concílio Vaticano II afirmou que: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS 1). Nós somos discípulos de Cristo, e é nosso dever, em primeiro lugar, cuidar da salvação das almas, sem esquecer das necessidades verdadeiramente humanas das pessoas. Não pode faltar alegria no caminho para o Reino.

Quero conhecer melhor cada parte desta nossa Diocese de Piracicaba.

Maria apontou um caminho para os que estavam servindo na festa: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Naquele lugar havia seis talhas de pedra, cada uma com capacidade para cem litros e estavam vazias. Podemos imaginar a dificuldade para carregar água e encher as talhas e podemos imaginar, ainda, como parece inútil esse esforço, quando se precisa de vinho e não de água. Mas os serventes encheram as talhas até a boca, com esforço e sem preguiça.

O vinho novo é graça de Deus, mas também é fruto da obediência, do esforço e do trabalho dos que servem. Não compreender todas as coisas e, às vezes, duvidar é parte da nossa condição humana, mas a fé nos leva adiante. Pela fé, confiamos na Palavra de Deus e agimos, enchendo as talhas ou lançando as redes como fizeram Pedro e seus companheiros na pesca milagrosa. É nossa tarefa encher as talhas com água boa. Vale a pena trabalhar pelo Reino de Deus. Maria estava certa.

O número das talhas de pedra parece um detalhe sem importância, mas não é. O número sete indica uma série que foi completada. Como lemos no livro do Gênesis, Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Na festa havia seis talhas de pedra, faltava uma. Jesus é sétima talha, que traz o vinho novo. Na plenitude dos tempos é ele que nos devolve a alegria e nos dá a vida em plenitude.

Jesus disse: “A minha hora ainda não chegou”. A cruz é a hora de Jesus. Do seu lado aberto saiu sangue e água, sinais do batismo e da eucaristia, os sacramentos da nova e eterna aliança. Agora, sim, podemos entrar na festa, lembrando que o mistério que celebramos aqui é sinal do banquete definitivo, preparado por Cristo para seus irmãos, nós, os filhos de Deus. Por isso, a cruz não nos assusta e, com Maria, queremos permanecer firmes na fé e na esperança, aos pés da cruz.

Podemos ainda fazer uma última analogia: seis talhas de pedra e seis bispos diocesanos. No serviço do Reino, cinco dessas talhas já foram preenchidas com água boa. Mas o bispo não trabalha sozinho, ele precisa dos presbíteros, dos diáconos, dos religiosos, das religiosas e dos leigos. Todos nós estamos a serviço do Reino, cada um segundo o próprio ministério e carisma. Trazemos a água e Deus realiza o milagre do vinho novo. Vamos continuar a trabalhar para vencer os desafios.

Os desafios de hoje são as novas periferias humanas; a imposição da cultura urbana; a perda dos valores cristãos; a desestruturação da família; o descrédito das instituições, do estado e da política; a exigência de uma comunicação atual e verdadeira do Evangelho. Entre todos estes desafios, há um que se destaca, pela sua urgência e atualidade: a pandemia que mudou a nossa forma de viver e celebrar a fé. Estamos mais distantes, mas por outro lado, este tempo de sofrimento fez aparecer, ainda mais, a caridade generosa do povo de Deus. Irmãos que se ajudam, para que ninguém fique sem alimento e alegria. É tempo de reafirmar a caridade cristã, ainda mais.

Filhos e filhas da Diocese de Piracicaba, coragem! Vamos caminhar juntos, animados pela Palavra de Deus e alimentados pela Eucaristia. Vamos reanimar nossas comunidades, revitalizar nossas pastorais e movimentos. Vamos perdoar o que é preciso perdoar, vamos curar as feridas abertas, vamos dar passos de conversão e comunhão, vamos corrigir e reorientar os nossos passos. Esta é uma tarefa que cabe a todos nós, particularmente ao bispo.

Deus nos ajude a cumprir estes propósitos, e que Santo Antônio interceda por nós.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!


Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo diocesano de Piracicaba 

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