Admitir, confiar, entregar, arrepender-se, confessar, renascer, reparar, professar a fé, orar e vigiar, servir, celebrar e festejar. São com esses 12 passos, que há 10 anos a Pastoral da Sobriedade da Diocese de Piracicaba tem recuperado vidas. Não somente do dependente químico, mas de toda família, que é “codependente”.
A Pastoral da Sobriedade tem como propósito ajudar os dependentes químicos e os codependentes a descobrir um novo projeto de vida a partir do encontro individual com Deus, tendo como alicerce os valores cristãos.
Desde que iniciou sua ação na diocese, em 2006, em Santa Bárbara D’Oeste, a Pastoral da Sobriedade tem como propósito apoiar as famílias com dependentes químicos (álcool e outras drogas) que não sabem como enfrentar o problema.
No início a ação pastoral era realizada a partir de palestras de prevenção e conscientização sobre os malefícios do álcool e outras drogas em paróquias, escolas, empresa, além dos encontros em grupos de auto-ajuda. Atualmente há grupos de auto-ajuda nas regiões de Santa Bárbara, Piracicaba, Capivari e Rio Claro. Hoje, esse trabalho é realizado por aproximadamente 40 agentes pastorais, que atendem mensalmente aproximadamente 1.500 pessoas, entre dependentes e familiares.
Com o tempo, sentiu-se a necessidade de ampliar o atendimento àqueles que necessitavam de um tratamento clínico. Foi quando em 2009, os agentes que atuavam na pastoral se reuniram e criaram a “Associação Vida e Sobriedade”, entidade sem fins lucrativos responsável pela Comunidade Terapêutica Vida e Sobriedade.
Criada há sete anos, a Comunidade está localizada em um sítio com uma área de 18 mil metros quadrados, na zona rural do município de Santa Bárbara D´Oeste. Inicialmente o local era alugado e posteriormente foi adquirido pela diocese e cedido em comodato à Associação.
A assistente social e coordenadora diocesana da Pastoral da Sobriedade, Anete Gonçalves Imperador explica que a Comunidade atende apenas pessoas do sexo masculino com idade a partir dos 12 anos, independente da religião que professa. No espaço, há possibilidade de abrigar 25 pessoas e atualmente tem 17 residentes. “Eles permanecem conosco durante seis meses, onde são acompanhados por diversos profissionais”, informa.
Enquanto o depende está na Comunidade, a família também é chamada a participar dos grupos de autoajuda. “A participação da família é fundamental para a recuperação do residente e consequente reinserção social”.
O índice de recuperação dos residentes chega a 50%. Um dependente químico deve ter a consciência que necessita viver um dia de cada vez e se manter sóbrio todos os dias, por isso a frase “Só por hoje, graças a Deus”.
Acesse o site ctvidaesobriedade.org.br e conheça
mais sobre a Comunidade Terapêutica Vida e Sobriedade.
Mais informações pelo telefone (19) 991007460
Admitir que precisava urgente de ajuda. Foi o que aconteceu com um jovem de 22 anos, que neste depoimento chamaremos de Mateus.
Mateus e a irmã foram deixados pela mãe em uma praça da cidade de Santa Bárbara D’Oeste. Alertado por frequentadores do local, o Conselho Tutelar recolheu as crianças, e elas foram levadas para um orfanato. A menina, por ser ainda bebê, foi logo adotada. Mateus não! A separação traumatizou o menino que somente conseguiu ser adotado aos sete anos.
Ao contrário do que imaginava, na família não encontrou amor, mas sim, agressão. E devido aos maus-tratos, foi retirado da família e levado nova-mente ao orfanato. Tempos depois foi adotado novamente. Apesar de ter encontrado o carinho que sempre procurou, ainda sentia-se rejeitado.
Com 18 anos foi trabalhar em uma indústria, onde lhe apresentaram a cocaína. Imediatamente tornou-se dependente. Para realizar qualquer atividade tinha que usar a droga. Vivia 24 horas sob efeito do entorpecente.
Muitas vezes, ficava dias ou até meses fora de casa, deixando a família angustiada. Depois de quatro anos de total dependência, sozinho, a pé, bateu à porta da Comunidade. Esta é a segunda vez que busca a recuperação. Mateus conta que não é fácil, “é matar um leão por dia”. É preciso querer realmente mudar de vida. Disposto a escrever outra página de sua história, segue firme no tratamento, contando com o carinho da família e dos profissionais da casa de recuperação.
Outro residente, que aqui chama-remos de Bryan e hoje tem 26 anos, teve contato com as drogas na infância. Ele morava com a mãe e seus três irmãos na periferia de Santa Bárbara D’Oeste. Para sustentar os filhos, sua mãe começou a traficar. Aos seis anos viu a mãe ser presa. A família (tios e avó) não tinha condições de criá-los, por isso, foram levados para um abrigo de menores.
Após cumprir a pena, sua mãe conseguiu reaver os filhos e Bryan, com 15 anos, deixou o abrigo. Foi para a escola e lá começou a ter contato com as drogas. Com 16 anos passou a realizar pequenos furtos, usando o dinheiro que conseguia para comprar o entorpecente. Primeiro usou maconha e depois cocaína. Devido aos furtos, por duas vezes foi recolhido na Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente). Com 18 anos começou a consumir crack e foi morar nas ruas. Não respondia mais por seus atos e começou a roubar para manter o vício. Foi preso cinco vezes. Conde-nado, cumpriu a pena.
No início de 2016, voltou ao convívio social e também ao vício, contudo, com o apoio da namorada, percebeu que precisava mudar de vida, que havia chegado no seu limite. Sua namorada conhecia a Comunidade Terapêutica Vida e Sobriedade, e, junta-mente com uma amiga, foi até o sítio. Decidindo que era sua oportunidade de mudar, ficou.
Passados seis meses, Bryan sente-se renovado com uma alegria que nunca havia sentido, mesmo quando estava totalmente alucinado pelas drogas. Após vivenciar os 12 passos, hoje reconhece ser um dependente químico e que deve se manter sóbrio um dia de cada vez. Ao deixar a casa foi morar em uma Comunidade de Vida ligada à diocese.